segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Contemplação

virei à direita no entroncamento, com rapidez calculada: passar antes do carro que surgia da minha esquerda e passar o verde antes de cair o vermelho. O tempo é fraccionário e o movimento tem que ser feito sem hesitações. E no jogo meio lânguido dessa rotação, atravessam-se dois peões, sem passadeira. A velocidade era breve e um pequeno toque de travão permitiu que tudo corresse bem: o carro da esquerda não precisou de atrasar a marcha, os peões deram uma pequena corrida quase desnecessária, o meu travão quase não travou e eu passei o verde e,....de repente toda a acção se desenvolveu na minha memória, num estranho ralenti, tal qual as imagens lentas das finais dos 100 metros! E, se...
De repente quis olhar com tempo para o mundo, quis apenas contemplar. Percebi que a contemplação inexiste, e que a preciso no meu respirar.
Logo à frente deslumbrei-me com a ramada sem folhas de uma árvore, no meio da rotunda, até hoje invisível, que rasgava o azul do céu.Ficou ali, hoje, a minha contemplação. Passei a novo respirar, ao segundo,no fugaz encontro com o mundo. Amanhã sem dúvida, quero contemplar.