sábado, 29 de dezembro de 2012

mergulharam no sol

correu para o verão. O sol cantava um quente morno que lhe refrescava a pele. Assim era o calor, arrepiantemente refrescante. Ele olhava-a, olho guloso-pasmado, encostado na quebra da página, quase sem respirar, não fosse perder dela, o fogo.
precipitou-se no verão. cada raio de sol a morder-lhe a pele. Assim era a paixão, ardentemente solar. Ele devorava-a, olho de brilho lunar, o sol a morder-lhe desejos, reais.
mergulharam no sol.
Na outra página Basil sorria e acariciava o longo cabelo de Sindala.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

quase quasar

não gostava de quases. gostava que quase fosse imediatamente antes de ser. é verdade que às vezes o quase parecia um amuleto libertador mas era nessas circunstâncias um quase. quase seria entre tempos e momentos...era aquilo que não tinha sido e aquilo que podia ser.
mas gostava de quases, quando quase ela lhe tocava, ou quase o beijava. gostava de quases que acendiam fogos, que abriam trilhos misteriosos na floresta.
gostava de quase a amar, para quase a poder ter.
Basil quase sorriu quando o quasar latejou, mesmo ali à sua frente. talvez ela lá estivesse, quase pronta, quase estrela, quase sua...do outro lado.
Balbuína viu-o chegar e quase o beijou. Em Tempo um raio de sol rasgou a manhã cinzenta.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

na terra quente e húmida

cheiro-te. arfo nos cheiros que procuro no teu corpo.
é terra quente e húmida e nela me envolvo.
ah cheiro-te como se aí estivesse a vida.
respiro-te quando te olho.
olha-me, respira-me.
inala-me

cheiro-te. arfo nos cheiros que procuro no teu corpo
descanso-me nos regos dos teus dedos
ah, por onde me inalaste
respira-me

arfo. por fim ficamos cheiros

domingo, 9 de dezembro de 2012

apetecia-lhe apetecer

apeteciam-lhe pêssegos, daqueles sumarentos, que a cada mordida se entornam pela boca e pelo queixo e, num assomo de delícia, a língua  lambe e os lábios sugam.
apetecia-lhe estar sentada sob aquela árvore que lhe acariciava a pele quando a ponta dos galhos, das folhas se alijava, quase junto ao chão, empurrada por ventos quentes.
apeteciam-lhe carícias mil, húmidas e secas, sobre o rosto, entre as coxas, por todo o ventre, um contínuo roçar de lábios desde os ombros à linha curva das nádegas.
apetecia-lhe desgaranhar o corpo, tirar-lhe a dormência do frio e, romã, arregoar-se em bagos doces e macios.
apetecia-lhe apetecer!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

para sempre

fugimos, eu e tu.
só os corpos, nus
um apego quente
para sempre, para sempre
fugimos, eu e tu,
só os corpos, crus
em paixão ardente
para sempre, para sempre
fugimos, eu e tu,
só os corpos, luz
que o universo sente
para sempre, para sempre

fugimos, eu e tu,
para sempre, eternamente