sábado, 26 de janeiro de 2013

no vento quente

um dia esperei por ti, lá onde o sol cheira a deserto e a hortelã me apaga a sede.
lá, naquele calor feito de vento ainda hoje espero por ti
e daquele momento, em que fiquei presa no teu olhar
vogo ainda no vento quente

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

fica comigo...

e com o indicador tocou-lhe o queixo e, num jeito de branda energia, virou-lhe o rosto para si: - Estás linda!, disse.
- linda! repetiu, num sussurro quente, e roçou-lhe a pele com o olhar.
Suspirou devagar, quase sem som, para esconder o tremor do corpo. olhou-o, o rubor a colorir-lhe a face.
desejou atirar-se de braços, apertá-lo no peito e morrer de paixão.
Suspirou  e humedeceu os lábios: - obrigada, disse, vemo-nos depois. afastou-lhe a mão e virou-se para a rua.
- Fica comigo...
atirou-se-lhe nos braços, varreu-o de ternura e ficou.

Foi assim Benedita- dizia-lhe a oliveira- que Basil e Sindala se amaram e eu nasci!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

o prédio

na vila as casas sorriam e choravam sobre as ruas, as praças e as calçadas. Algumas aconchegavam-se em becos estreitos, outras desenhavam-se como canteiros em pátios rodeados de parreiras. Aí, as janelas abriam-se para intimidades de tímidas volúpias, cheiros mais frescos nos pátios, mais húmidos nos becos.
Nesse tempo, das casas, nasceu na vila, o prédio. Não se aninhava no corpo da vila, estava ligeiramente fora, como as casas de campo, mas era um prédio.
Exercia o fascínio de uma catedral, porque não era uma casa.
viviam lá três, isso mesmo, três meninas da sua  criação. Eram filhas de mães mais lindas, sempre muito bem ajeitadas (era o que pensava na altura) e tinham a sorte de viver no prédio. Foi assim que pode conhecer um prédio e brincar nos seus segredos, muito parecidos com os das catedrais.
E, era verde, muito verde! Mas podia ser verde porque era o prédio. A verdade é que gostava mais da alvura das casas da vila, o prédio era apenas uma viagem à modernidade.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

vou contigo à lua

quase sempre perdia-se. decidiu por isso que o melhor era estar num prado. para não se perder nem se encontrar. Apenas colheria flores sem as colher. entrançaria o vermelho das papoilas com a alvura dos malmequeres.
para onde o olhar fugisse não veria dentro ou fora somente o azul bem junto ao amarelo do prado e os caminhos desenhados, para além do horizonte, em encarnado-branco.
deu-lhe a mão. seguiram pelos entrançados, cruzando-se, perdendo-se e encontrando-se, ela grande, ela menina. Quando chegaram ao horizonte ele já lá não estava, esgueirara-se para mais além, outra vez a beijar o prado dourado.
- Sabes?!- disse ela menina- encontrei uma escada para chegar à lua. queres vir comigo? Ela grande, sorriu, acenou que sim e disse: - Leva-me contigo!
Caminharam. nunca mais se perderam.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

a gata vadia

Havia uma gata, sem nome. Era vadia aquela gata, uma gata vadia! Aninhava-se no seu colo e ronronava mansinha e quente. Benedita acariciava-lhe a macieza do pelo do lombo e ela roçava a pata no seu nariz, como quem se coça de ternuras. Decidia então cambalhotear e aninhar-se em sentido inverso. Encostava-lhe o rosto àquela macieza do pelo e fazia-lhe fosquices. Era quando ela, aquela gata vadia, tremelicava as orelhas, em espasmos de plena langura e se espreguiçava toda, barriga virada para cima, no seu colo e quase dele caía sobre o degrau da escada. Depois, satisfeita, saltava aristocraticamente para a pedra do degrau e lentamente afastava-se pelo caminho, rabo empinado de ponta rolada. Lançava no ar um miado doce e desaparecia por entre as ervas do campo de trás. Era o fim da manhã e a mãe quase a chamava para o almoço e nesse quase Benedita pegava no seu João chorão e embalava-o nos seus braços, ronronando como a gata vadia.

Toca-me, meu amor.

toca-me meu amor! baloiça-me nas cordas do desejo que o cheiro da tília envolve.
Toca-me meu amor, envolve-me o corpo no teu abraço e respira-me de beijos sobre a nuca.
Baloiça-te comigo, meu amor, deixa que a aragem nos afague a pele e as cordas nos queimem as mãos.
Faz-me um baloiço, meu amor, deixa-me morrer num vai-vem de paixão que o cheiro da tília adoça.
toca-me meu amor. dá-me a mão e leva-me contigo ao jardim das tílias! quero andar de baloiço.
Toco-te meu amor quando me baloiço nos sonhos sob a tília...toco-te meu amor!