domingo, 27 de outubro de 2013

o cheiro da espiga

estava frio, o frio das primeiras noites de outono, quando os dias ainda são quentes e o Sol encharca em ouro portais, lagos e colinas. a noite adormeceu devagarinho e as estrelas acordaram no céu. Quis-te  na manta que aconcheguei no corpo. Cheirava ao cheiro da espiga da tarde em que te deitaste no meu corpo. E amei-te. a noite encheu-se de luz de lua, abriu-me as portadas do sono embalado e tocou-me a pele de arrepios. do lado de lá esperavas-me. naveguei na nuvem que os teu sonhos me trouxeram. Acordei no calor da tua pele.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

feitiço

se me olhares como olhas o sol,
na viagem até ao leito do mar,
vais tomar-me do corpo a alma
e eu, neste rio que quero navegar
perdida nas vagas de maré calma
cubro-me dos véus do teu olhar.
e se me amares no canto do rouxinol,
encantado no meu fica o olhar teu
e partimos na barca
de um feitiço cantado
neste mar que é o teu corpo no meu

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

desenhou o Outono

desenhou o Outono no fim do ditado. apetecia-lhe mais desenhar a casa, os vasos com flores e o Sol no canto da página, mas a professora queria o Outono.
A lição tinha ficado cheia de folhas a cair, de cores douradas entre o amarelo e o vermelho quente, como se os ventos ali tivessem entrado e revolvido toda a sala. quando assentaram a  professora fez contas de mais e de menos e deixou os problemas para pensarem em casa. Também eram sobre folhas...
Gostava do Outono, até o confundia com Outubro e o tempo das letras e das contas, mas era muito difícil de desenhar porque era difícil desenhar o vento e colorir aquelas cores das folhas...tinha que pedir à mãe a caixa de lápis com o dourado...
Ajeitou-se no banco da carteira e braço arredondado sobre a tampo, em jeito de protecção do trabalho, foi narrando o empenho na tensão com que deambulava a língua sobre os lábios, encostando-a com força desmedida nos cantos da boca, como se assim o vento soprasse no desenho, as folhas caissem e as árvores ficassem com os seus ramos despidos.
No fim, que era o fim da lição, deixou o caderno junto da professora que lhe disse: "- Até amanhã Benedita! Fizeste um bonito desenho".
 - Adeus, professora!, disse Benedita e saiu em correria contida. Encontrou-se à porta com o desenho, mergulhou nas folhas soltas que o vento fazia girar e pisoteou as que se aglomeravam nos recantos do caminho fazendo vibrar criics e crracs pelo ar.
Faltava o Sol, tinha que ficar no canto sobre os galhos nus da árvore do páteo da escola. Desenhou-o, com o lápis amarelo, e o Outono não deixou de ser Outono.

... cogitava consigo mesma e confabulava com os traços e as cores que lançava no papel, era assim como dançar, nem tudo tinha que lá estar...

A professora tinha dito que a lição do outro dia era sobre os frutos do Outono.
Não gostava de desenhar frutos, mas gostava do sabor dos bagos da romã. Encostou a língua bem no canto da boca tirou o lápis vermelho da caixa e desenhou os bagos no galho nu. Amanhã estariam no desenho no fim do ditado.

sábado, 5 de outubro de 2013

E dança...


dança...
e deixa-te vogar entre os meus braços
sonha que o meu corpo baila, no teu entrelaçado
e ama...
docemente, ternamente,
o fogo que o meu corpo emana
e dança...
o teu olhar encantado na pele que uso nua
e sonha...que te tomo vestida de luz de lua
e ama...
ardentemente, perdidamente,
o deserto da minha cama