sábado, 26 de abril de 2014

o carrossel e o algodão doce


sabia-lhe a espuma, derretia-se em suco doce na boca e era fofo como o algodão.
Caminhava empertigada nos carreiros empoeirados da romaria, pau de algodão doce, branco como a neve, bem seguro na sua mão de onde ia esfiapando nuvens de açúcar que desapareciam por entre os seus lábios.
- olá! disse-lhe o garoto fixando os olhos castanho mel no seu algodão
- Olá! disse-lhe Benedita, e continuou o seu caminho saltitando ao som dos carrosséis. Num repente parou,  rodopiou e disse ao garoto de olhar espantado: - Queres? e estendeu-lhe uma rama bem aviada de algodão. É doce, sabes?! e derrete-se devagarinho na boca.
O garoto sorriu de esguelha, esfregou a ponta do sapato no caminho empoeirado, sussurrou um sim envergonhado, abriu a boca e devagarinho retirou aquele bocadinho de algodão doce dos dedos de Benedita.
- Queres andar no carrossel? perguntou-lhe.
Reluziram os olhos de Benedita. - No carrossel?! os pais ainda não me deram dinheiro para as diversões...disse com voz esmorecida e um grande suspiro.
- Ah! Não fiques triste eu  trabalho lá, recolho os bilhetes, sabes? como és minha amiga posso levar-te para uma volta. Queres?
Benedita gargalhou, pegou-lhe na mão e desatou em correria, directa ao engenho, puxando-o como se receasse que se o não levasse, assim depressa, perdesse a viagem.
Ao som de "mais uma corrida, mais uma viagem"  chegaram ofegantes. O carrossel girava galgando suaves inclinações, transportando girafas, zebras e cavalos onde se penduravam miúdos e miúdas e algumas pessoas crescidas. Mas as chávenas eram a perdição de Benedita. aquele movimento giratório que de tão intenso parecia que ali parava o tempo, bem no centro daquele círculo, como se  lá fora fosse outro universo.
- Vamos na cor-de-rosa. Disse quando o garoto de olhos mel a levou até ao estrado de fiadas e fiadas de tábuas.
- Eu sou a Benedita, e tu?
- Rui, mas conhecem-me por Fintas...
Saltaram para o interior da chávena e as réguas de madeira  pianaram subidas e descidas num som de intensa competição com a música popular que saia escancaradamente dos altifalantes.
Benedita começou a rodopiar e à sua volta giraram luzes e sons que se misturaram até deixarem de existir e o tempo parar.
Pegou-lhe na mão, abriu a cancela, e sairam em Tempo.
- Gosto dos teus olhos castanho mel, Fintas.
Ele sorriu, apanhou um malmequer e prendeu-lho nos cabelos. Deram as mãos, seguiram pelo carreiro empoeirado e foram mordiscando o algodão doce.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

ter-te, assim


quero o cheiro do teu corpo suado e se me perguntares onde, digo-te que é por toda a minha pele, nos meus cabelos, na ponta dos meus dedos.
E se me disseres que passas por aqui, abro-te a minha cama, deito-me contigo e aperto-te nas minhas coxas.
tomo-te no meu peito, envolvo-me nos teus lábios, e quando o teu cheiro me beijar os olhos sei que estás em mim o tempo todo.
se posso então adormecer, decido ter-te em mim. Assim.