quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

polvilhos

há viagens em que decidimos outras histórias.
nesse dia mudou de história.
foi buscar umas pedrinhas de sal e polvilhou-as em alguns amores.
 queria-os em conserva.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

imperfeito amor

eis-me eu. sem sombras. um apontamento perfeito na imperfeitude do dia.
espero-te. nas areias do perfeito deserto. percorrem-me o corpo as areias quentes, quando te espero.
quando chegas amas-me imperfeitamente. amar-me-ás por isso eternamente.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

depressa andam os dias

às vezes os dias teimavam em passar depressa.
quando aconteciam decidia ir passear até à cidade das formigas. Acocorava-se ao lado do carreiro, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar o rosto e o olhar preso no desfilar eterno das habitantes dos fundos da terra.
as formigas não fugiam, apenas a contornavam ou decidiam subir-lhe pelos sapatos sem qualquer interesse  parecido com o interesse que tinha em as observar.
aleatoriamente esmagava uma, e outra, e outra, em diferentes pontos do carreiro e fascinava-se com o agitar das fileiras, o rodopio dos insectos, o mover das antenas em conversas surdas que traduzia para  um linguajar de ajuda imaginando a vinda de uma equipa de salvação, que nunca chegava. Apenas permanecia por algum tempo uma espécie de mórbida curiosidade na fila  ordenada de formigas que acorriam a um contacto rápido com a companheira moribunda impedida de continuar a sua demanda até ao completo desinteresse.
entendeu mais tarde que não eram companheiras. Não como ela pensava que deviam ser as companheiras. andavam em filas, em eternas filas e o tempo passava devagar.

às vezes os dias teimam em passar depressa.
estou de cócoras, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar os rosto. Corre uma brisa dolente que farfalha as hastes de um feno bravio acoitado por entre saliências rochosas e erva rasteira a mudar para o seco por onde se me prende o olhar em carreiros de formigas
Andam devagar os dias.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

uma história navegada

meu amor dá-me uma história navegada
a qual possa no meu peito acalentar
meu amor quero ir contigo na viagem
viajar nesse teu corpo que é o mar

meu amor à nossa espera há uma barca
está num porto e dos ventos resguardada
meu amor levo-te ao tempo da coragem
no meu corpo quando soltas as amarras

há um tempo em que te amo sem cordames
há um tempo em que o mar é a nossa casa
meu amor dá-me uma história navegada
e o meu corpo é a tua barca, a tua amada