sexta-feira, 22 de novembro de 2013

era o meu amor a amanhecer

quando o tempo não aconteceu
e a morte veio e escureceu
houve uma razão
para te dar a mão
era o meu amor a amanhecer
 era a madrugada do meu ser
quis-te todo o tempo no meu leito
acordar no quente do teu peito
cantar uma canção
gemer uma paixão
ser o tempo todo a acontecer
ser a vida inteira do teu ser

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

a carica

havia um caminho, uma linha de sinuosas e redondas curvas na planície. era sem destino, um caminho que sempre que chegava ao fim voltava de novo a começar. Cansava-me o caminho, cansava-me o destino de sempre começar. Lembrei-me de me lembrar de mim.
"a carica percorreu uns centímetros na borda do lancil.  era a estrela da sua colecção. tinha conseguido acolchoá-la com um pedaço de borracha que lhe dava equilibrio e direcção sem a tornar pesada. garantia-lhe sempre a vitória, a ela naquele grupo de meninos.  laranjina C, eram os dizeres quase sumidos na carica de rebordos gastos de tanta jogatina. Sem ela não entrava na certa na brincadeira dos garotos."
Sentei-me na pedra do caminho. Do outro lado os barrocos descansavam em tufos de giestas e abriam frestas para aléns desconhecidos. Estava meio enterrada na areia do caminho uma carica de letras sumidas de um alaranjado ferroso. Coloquei-a no topo da pedra do caminho e mirei, um olho fechado, a fresta dos barrocos.
A carica voou, percorreu uns centímetros na borda do lancil...
Lembrei-me de me lembrar de mim.