quinta-feira, 9 de março de 2017

o exótico aroma do funcho


caminhava no silêncio do trilho. soava ao restolhar leve do tojo e das urzes e ao exótico cheiro do funcho. Chegou a Duas Pedras. uma quase ausente fenda coloria de azul o vazio que as unia. Do lado da sombra descansou o olhar e respirou de novo lenta e tranquilamente. Passou por sob a fendida e incompleta abóboda de Duas Pedras rumo à luz.
- Onde vais? perguntou-lhe
olhou e viu as letras soltas das palavras que não sabia se queria dizer. - Para além, respondeu.
- ...além?!
pareciam desenhar ilhas, as aparentes palavras. - Perdi-me do pensamento. Sei-o mais além, disse.
- Tenho um talo de funcho. Queres?
- Humm...sabia-o sem nome, sei-lhe o aroma e o gosto.
Olhou-o. Pareceu-lhe bem. tinha um brilho forte e doce no castanho escuro do olhar. dedos esguios em pele morena e um talo de funcho mascado no canto dos lábios grossos.
Sentaram-se no degrau primeiro e mascaram funcho.
- dás-me a mão?
navegou por entre as ilhas das palavras que não sabia se queria dizer.
- quero ir contigo mais além.
deu-lhe a mão e escalaram os degraus cravados na pedra. Não havia porta, nem corredor. abriram o azul e entraram no pensamento.
Na pequena frincha do lenho da pedra, no topo dos degraus, cheira ao exótico aroma do funcho verde.