sexta-feira, 20 de maio de 2016

a muralha

davas-me a mão, sabias, quando me desequilibrava na muralha e era noite. o rio estava escuro e brilhava nele o luar. havia uma dança no nosso caminhar, um bailar de ancas e de rodeios. falávamos com palavras tão mordidas de anseios.
tocaste-me a cintura por entre os desníveis das  ameias, e disseste-me ao ouvido "para te sentires segura" ...e eu que queria navegar na lua derramada nas águas escuras.
dei-te a mão no breve instante em que me elevaste para logo me poisares no relvado do fim da muralha. foi quando  rocei o lóbulo da tua orelha e te segredei "desenha-me beijos, faz-me existir".
Sabes? naquela muralha junto ao rio...e estava luar.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

a lenda das papoilas

deitaram-se no campo das flores vermelhas.
por entre as hastes verdes e os suaves vermelhos banhados pela luz, ela sorria. Quando sorria, as pétalas da  papoila quase rosa que lhe roçava os lábios, dançavam soltas e agitavam bailados de sombras íntimas que ele bebia.
e o Sol caía morno sobre a terra, sobre os corpos. Gostava de lhe sentir as sombras, de lhe adivinhar a pele, de lhe tocar com o olhar. 
Ajeitou-lhe o cabelo, atrás da orelha. tocou-lhe os lábios com os seus e tombou discreto no seu peito por onde navegavam flores, hastes verdes e um morno calor.
dormiram o sono das papoilas, pleno das íntimas sombras dos amores ali amados...
- e foi assim Benedita, que as papoilas ficaram com cheiros que não se sentem, mas que nos adormecem docemente, contou-lhe a mãe com um mágico sorriso.