sábado, 30 de maio de 2015

a árvore grande

encontra-me.
perdi-me porque queria que me encontrasses. depois não encontrei o caminho ou foste tu que cruzaste outras paixões.
Fiquei eu na floresta encantada e havia um rio que enfeitiçava o tempo. havia nele uma barca a que faltavam as velas e o vento não soprava.
no galho da árvore grande estava um pássaro poisado. sentei-me no ancoradouro, a água a beijar-me os pés, tapei os olhos e contei até dez. Cuidei que te escondias.
procurei-te porque não me encontravas, mas não estavas atrás das árvores nem entre as ervas. sabia-te na barca. Puxei devagarinho a corrente do rio e deixei-te largar âncora.
Encostei-me na árvore grande. o pássaro poisou-me no ombro e bicou-me a orelha.
disseste-me, enquanto me apertavas ao peito e me olhavas o rosto, que também tinhas tapado os olhos e contado até dez, para me encontrares.
acordei com borboletas desenhadas na paisagem e a barca a baloiçar no rio onde não sopra vento.
quero que me encontres quando tapas os olhos e contas até dez...estou atrás da árvore grande.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

amar, de madrugada

a luz da aurora acariciava-lhe o corpo. pintava-a de cores de sombra por onde ele escondia os  dedos e beijava desejos.
gostava de lhe dar o corpo na luz pálida da manhã, quando amanhecia devagarinho...
adormeceram no sonho da alvorada. quente o sopro que lhe tocava o ventre. E o rosto dele descansado no seu peito.
gostava de lhe olhar as espáduas e tocar-lhe de mansinho com os dedos, como se fosse a alba a matizar o negro do céu.
aconchegava-se-lhe num jeito abandonado de fazer parte do nascer do dia, e parava o tempo. Porque pode parar-se o tempo quando se ama de madrugada.
- Ainda havemos de ser felizes - disse-lhe.
- sim, havemos....
Sorriu-lhe, abriu a porta e levou-o ao arco-íris.