quarta-feira, 30 de maio de 2012

bruma

é, eu estou dentro de mim, num eu que não é, sendo


                                                                            imagem de Liu Yuanshou

outras vezes estou desalojada de mim, perdida na bruma de mim

segunda-feira, 28 de maio de 2012


o foguetão da aventura, despenhou-se no mar da Imbecilidade.
então o mundo ficou igual e o ser ficou detido à porta da esquadra.
Ele, que ia voar até ao universo.

sábado, 26 de maio de 2012

olhar 1

tenho no olhar o princípio, o infinito de tudo finito de coisa nenhuma

imagem Louis Treserras

e no olhar todos os amores, todos os sabores e todas as cores




quarta-feira, 23 de maio de 2012

viagem (1981)

sentei-me no oceano das palavras
descobri o caminho marítimo para Vénus
Introduzi-me no país Eu
e perdi-me
em risos desmedidos
sem saber para quê
Ah! sim, lembrei-me
porque me sinto feliz
e, porque me sinto feliz
perco-me novamente
sempre fugindo, sempre encontrando.

Ah, que bonita a literatura, o conto, a história,
o que quero dizer encerrado em sinais, símbolos, nada de eu.
Ah, sim, claro que gosto de ser eu
talvez que sem mim eu não fosse!
mas, já viu bem o problema?
a essência de mim, sem mim, que poderia ser?!

o branco universaliza-me..(.flash and flash)saber
tiranizando-me...
gostava de saber inventar palavras,
gostava de saber transformar as palavras em nada.

um dia vi um santo pendurado, na minha frente
gostava de não ter visto o santo.
também há algum tempo eu sonhava com sonhos.
agora desci das nuvens, num cavalo alado
cruzei com tudo o nada
transformei-me em cinzas.
Ah, como sou um grande mago, perdão, um santo,
perdão um louco, perdão um herege,
gosto de ser pessoa, tal como são as pessoas, mas eu.

sinto por vezes o peso do universo.
a flor é o mais lindo cheiro. cheiro a flor.
cheira a merda!
Enfim, que escrevo eu? Coisas!!


amo-te. Até! (1981)

Notas os meus cabelos dançantes
a minha beleza
o meu olhar de amor
o meu sorriso doce

.............................................

um ponto vibrou

só por um dia não vou ficar
 
                 Amo-te. Até!


quarta-feira, 16 de maio de 2012

bolhinhas (1981)

ainda ontem não te sabia
mas hoje encontrei-te
hoje te vivo, hoje te amo.
Sabias que a espuma do mar,
é o amor em bolhinhas?

segunda-feira, 14 de maio de 2012

flash(es) (1981)

se tudo fosse luz
transformava o meu corpo em corrente eléctrica
percorria-te de mil choques ternos
e em FLASHES seria o nosso amor

sábado, 12 de maio de 2012

o fim da rua

havia uma rua sem fim. eu sentava-me bem no principio, que não era principio, só era porque eu estava lá. afinava o olhar até ao fim, aquele ponto misterioso que tem algo do lado de lá, e por isso não tem fim. esticava o braço e puxava o fim da rua para ao pé de mim, para ver, para lá do fim. nunca lhe encontrei o fim, mas sempre o lado de lá. quase que me esquecia de viver do lado de cá!

domingo, 6 de maio de 2012

a minha mãe era uma tolice de mãe!

a minha mãe adorava falar. acho que nunca conheci ninguém que como ela gostasse de dar à língua. adorava a vida, a minha mãe, ver o mundo, senti-lo e cheirá-lo. a minha mãe era uma força, uma alegria e uma aventura. a minha mãe era uma tolice!
Naquele último ano, naquele último natal, já não falava, já não andava, já não via e muitas vezes já não estava. vogava num limbo de imagens raras que lhe abriam sorrisos e lhe soltavam os medos.
a minha mãe adorava a festa, a mesa cheia da família, dos amigos e, naquele natal que já quase  não estava, quis pôr-se bonita e tactear todos os presentes que lhe deram, farfalhando os dedos no papel luzidio dos embrulhos.
escorregaram-lhe umas lágrimas e premente apertou-nos as mãos e beijou-nos os dedos que com ânsia passou pela face, naquele natal!
a minha mãe encostou-se no meu ombro e adormeceu e ainda hoje a trago no meu colo.
A minha mãe era uma tolice de mãe! e ainda hoje tenho saudades do seu colo...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

numa nuvem, para Lia

era uma vez, uma nuvem, branca como a alva neve e fofa como o algodão doce. Vogava no mar azul do céu e  brincava de fazer de conta. às vezes parecia um coelho, outras um unicórnio outras ainda um dragão e também os mais mirabolantes narizes de não sei quantas personagens...
um dia encostou-se no beiral da minha janela e lançou-me degraus, de espuma de nuvem. saltei o beiral e corri atrás de um coelho, de olho rosa, e cavalguei no unicórnio de corno dourado.
o dragão ao longe batia as asas e soltava quentes baforadas de fogo, laranja, mesmo ao lado do sol.
sentei-me no rolo mais fofo da nuvem e o unicórnio, que me segredou chamar-se fantasia, encostou-se no meu ombro e pôs-se a desenhar narizes, com o corno. Eu ri-me em soltas gargalhadas que foram desfiando a branca nuvem em suaves traços no mar azul do céu.
o dragão, que me segredou chamar-se força, levou-me manso até à primeira estrela. soprei-lhe breves diamantes, lágrimas cristalinas de dias cheios, escorregas de luz até aos campos. Caí na copa frondosa da árvore gigante do pátio do castelo e esvoaçaram mil pardais. no topo da torre a nuvem sorria-me divertida.
o coelho de olho cor de rosa batia a pata sob a copa. olhou-me de lado, piscou-me o olho e atirou-me o assento do balancé.
abri os olhos e tinha o cabelo cheio de pássaros.