segunda-feira, 11 de abril de 2016

dor II

queria gritar, bater na ternura, queria vestir-se de si mas doíam-lhe os abraços e as palavras doces.queria a ternura a todo o tempo. vestir-se dos seus abraços, adormecer nua no seu regaço

domingo, 10 de abril de 2016

emudecemos

emudeço porque não sei como falar. dispo as palavras da minha boca e apenas quero que me toques. beijas-me secretamente para que te ame publicamente. encostas-te no meu corpo e dispo a tua nudez.
depois...depois  emudecemos de tanta paixão.

porque me emocionas

gosto que o meu rosto sinta a doce melancolia da alma, que os meus olhos se encharquem de emoção.
porque gostas?
ah! quando me beijas os olhos, me abraças bem junto ao peito e o meu corpo se quebra e se encolhe e espera pelo teu
e porque esperas?
não sei como não esperar, porque aqui estou e aqui anseio e aqui quero que me ames
diz-me, como me anseias?
sinto-te em cada rio, em cada pedra, no voo das águias, na sombra das árvores e no cheiro do rosmaninho
deu-lhe a mão. as mimosas bordejavam os caminhos e quando voaram soltaram-se os pássaros da primavera acoitados na torre branca no topo da oliveira.
chegaram de mãos dadas ao castelo, vindos de longe. beijou-lhe o olhar e segurou-lhe as lágrimas.
porque choras?
porque me emocionas.
agitaram as asas, poisaram na torre branca, no topo da oliveira e ali se amaram.


Era Abril

era alvorada, ou fora. o dia era um normal dia de Abril, quando o clima era como devia ser e havia escola, porque era um dia de semana. as horas eram iguais às horas de Inverno pelo que ninguém fazia cálculos para saber que horas seriam se fosse hora de Inverno.
comeu a papa matinal, metade do corpo sob os lençóis, metade a incomodar-se para acordar e as papas quentes e doces a escorregarem, suaves, até às suas entranhas. A mãe circulava dentro e fora do quarto, agitando o ar como se fosse uma brisa fresca e ia dizendo "Benedita, levanta.te minha filha, já tens a roupa escolhida para te vestires". Benedita arrastou um "siiiim mâe" sem entender muito bem aquele escolher de roupa, que era quase sempre a mesma, mas era já um hábito da mãe lhe compor as calças e a camisola do dia anterior.
estava cinzenta a manhã, algo húmida. seguiu na agitada vaga de jovens que àquela hora se dirigiam para a escola, mais ou menos agrupados conforme a vizinhança e a intimidade.
"Adeus, até logo", e largados os colegas da caminhada, juntou-se às colegas de turma. casacos pendurados no corredor, e as batas brancas sobre as várias camisolas, que ajudavam a ter menos frio nas salas grandes e frias do liceu.
a manhã continuava cinzenta e húmida e os corredores começaram a encher-se dos sussurros, das palavras que os professores não diziam, mas que lhe estavam escritas nos olhos e nos gestos algo tensos dos corpos.
Diziam os sussurros que havia uma revolução....uma revolução. Benedita segredou essas e outras palavras com Alina, a sua melhor amiga, com todos os medos que a revolução lhe fazia sentir e quando os sussurros abafaram os risos e o papaguear dos intervalos, mandaram-nos para casa.
Também a rua estava cheia de sussurros, entrava até para dentro da bata branca uma estranheza que a fazia caminhar de forma diferente.
A televisão aconselhava a ficar em casa e a mãe e o pai estavam estranhamente calados.
dias antes perguntara ao pai o que era o fascismo, dias antes tinha escrito no seu diário que gostava de alguém que lhe agitava o coração. dias depois aprendeu do fascismo e da liberdade e apaixonou-se pelo homem da revolução.
Era Abril, 25.