quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

no labirinto do milho

um dia falei com ela.
foi no dia em que acreditei que o vento de gelo, velado, existia e me queimava o rosto nas manhãs pardas dos invernos da vila. Só se fala com ela quando sabemos que há vento, e a pele se avermelha, nas bochechas e na ponta do nariz, e nos sai um bafo quente que se perde no ar. Ela era estranha, quase não existia, pelo menos nunca lhe vi a bochecha vermelha do frio e isso  era como não existir. Mas estava lá, atrás da parede da Casa Grande, no sítio das perguntas.
Não lhe queria perguntar nada, porque nada se pergunta a quem quase não existe, por isso falei com ela, como se existisse. Gostou de mim, ela. É que eu disse-lhe que até podia existir desde que ficasse com a bochecha e a ponta do nariz vermelha.
Nesse dia não me entrou o frio na alma nem a manhã parda me escondeu no labirinto do milho.
Esqueci-me de lhe perguntar o nome...

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