sexta-feira, 8 de agosto de 2014

esvoaçando por aí

havia um pedacinho de mim naquele estendal.
é que um dia ao acordar havia um cinzento naquele pedacinho de mim e, mesmo depois de sorrir ao sol da varanda, ficou ali, a parecer uma nódoa triste. Decidi pois sair sem aquele pedacinho de mim, porque era hora de o lavar, esfregar, pôr a corar ao sol.
Depois, bem enxaguado pelas águas soltas da ribeira de baixo, havia que o estender lá no prado da encosta da Lage e deixá-lo secar, batido pelo vento e aquecido pelo sol que teimava em esconder-se nas nuvens navegantes.
era tão bom ver aquele pedacinho de mim, agitar-se loucamente sob a corda do estendal, que entre o sair e o voltar daquele sítio onde se ganham nódoas, sentava-me no murete que envolvia o prado e olhava -o, embevecida com a mirabolante dança do vento e o pedacinho de mim.
Não me pareceu bem ficar com aquele pedacinho de mim quando o tirei do estendal, decidi então deixá-lo escapar-se por sobre as silvas e as ervas, esvoaçando ao correr da brisa.
Gosto de ter um pedacinho de mim esvoaçando por aí.

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