sábado, 21 de fevereiro de 2015

depressa andam os dias

às vezes os dias teimavam em passar depressa.
quando aconteciam decidia ir passear até à cidade das formigas. Acocorava-se ao lado do carreiro, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar o rosto e o olhar preso no desfilar eterno das habitantes dos fundos da terra.
as formigas não fugiam, apenas a contornavam ou decidiam subir-lhe pelos sapatos sem qualquer interesse  parecido com o interesse que tinha em as observar.
aleatoriamente esmagava uma, e outra, e outra, em diferentes pontos do carreiro e fascinava-se com o agitar das fileiras, o rodopio dos insectos, o mover das antenas em conversas surdas que traduzia para  um linguajar de ajuda imaginando a vinda de uma equipa de salvação, que nunca chegava. Apenas permanecia por algum tempo uma espécie de mórbida curiosidade na fila  ordenada de formigas que acorriam a um contacto rápido com a companheira moribunda impedida de continuar a sua demanda até ao completo desinteresse.
entendeu mais tarde que não eram companheiras. Não como ela pensava que deviam ser as companheiras. andavam em filas, em eternas filas e o tempo passava devagar.

às vezes os dias teimam em passar depressa.
estou de cócoras, cotovelos espetados nos joelhos, as mãos a segurar os rosto. Corre uma brisa dolente que farfalha as hastes de um feno bravio acoitado por entre saliências rochosas e erva rasteira a mudar para o seco por onde se me prende o olhar em carreiros de formigas
Andam devagar os dias.

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