Em defesa da língua portuguesa, este blog não adopta o "Acordo Ortográfico" de 1990 devido a este ser inconstitucional, linguísticamente inconsistente, estruturalmente incongruente (para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral)
quarta-feira, 19 de abril de 2017
se falasses como se me amasses
havia entre eles uma faísca, queriam-se quando os outros a sentiam.
Tinham acordado na caravela ao chegarem ao porto dos navegantes. Vestiam saudades, histórias de mares sagradas e de estranhas relações profanas.
- fundamentalmente amam-se memórias, disse-lhe. Quando corres, quando vibras acordas-me pensamentos já adormecidos e amo-te quando adormeces, junto a mim, no dealbar da manhã.
mordiscou-lhe o lóbulo da orelha enquanto lhe desnudava a nuca da cabeleira revolta. Havia um manso remanso no embate do casco no cais, ao sabor das águas calmas da enseada, que lhes embalava os corpos.
- Podes parar o tempo? Podes por favor pará-lo? enroscou-se-lhe no peito, rodou ligeiramente o rosto e suspirou, - se falasses como se me amasses...
- Mas falo. Quando chego já sei que é o teu corpo que me espera e quando o sinto sei que existo.
beijou-o, sôfrega,as mãos ávidas do seu rosto. não queria aportar, aportar era chegar, pisar calçadas e perder o balanço das marés.
- Faz parar o tempo, meu amor, leva-me de volta ao mar.
Estranhou-lhe o gosto, o destino. Achava ele que era tempo de aportar. Apertou-a forte contra o peito.
- Se me falasses como se me amasses, repetiu-lhe. Acariciou-lhe o rosto e adormeceu.
faiscou na alba. Queriam-se quando os outros a sentiam.
segunda-feira, 17 de abril de 2017
suave dança o feno
suave dança o feno no meu corpo.
envolve-me de carícias quentes, breves línguas de fogo, que me afagam a pele.
toca-me o feno, romanceia-me murmúrios sedosos e deito-me nua. Escuto as papoilas, mariposas dos prados de além. sorriem por entre o feno e vestem-me o corpo de diafános vermelhos.
suave dança o feno no meu corpo, quando chegas.
despes-me das pétalas, deitas-te comigo e envolves-me de carícias.
agitam-se as papoilas quando me murmuras ternuras.
enche-se o horizonte de silêncios. suave dança o feno no meu corpo
segunda-feira, 10 de abril de 2017
instantes
sei que suspiras quando sentes que me encosto a ti
e depois, cerras os olhos
gosto das paisagens interiores. gosto da tua, como se fosse sempre sedução.
estava então de manhã
a areia quente tinha o calor do teu corpo no meu
e deslizou em mim quando a soltaste dos teus dedos
num instante..
instantes onde o orgasmo é eterno
instantes em que te amo
instantes em que não existo
instantes em que te quero
estava então o entardecer
chovias, apenas chovias.
abri a porta e encharquei-me de ti
sei que suspiras quando estás em mim
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