quarta-feira, 19 de abril de 2017

se falasses como se me amasses


havia entre eles uma faísca, queriam-se quando os outros a sentiam.

Tinham acordado na caravela ao chegarem ao porto dos navegantes. Vestiam saudades, histórias de mares sagradas e de estranhas relações profanas.
- fundamentalmente amam-se memórias, disse-lhe. Quando corres, quando vibras acordas-me pensamentos já adormecidos e amo-te quando adormeces, junto a mim, no dealbar da manhã.
mordiscou-lhe o lóbulo da orelha enquanto lhe desnudava a nuca da cabeleira revolta. Havia um manso remanso no embate do casco no cais, ao sabor das águas calmas da enseada, que lhes embalava os corpos.
- Podes parar o tempo? Podes por favor pará-lo? enroscou-se-lhe no peito, rodou ligeiramente o rosto e suspirou, - se falasses como se me amasses...
 - Mas falo. Quando chego já sei que é o teu corpo que me espera e quando o sinto sei que existo.
beijou-o, sôfrega,as mãos ávidas do seu rosto. não queria aportar, aportar era chegar, pisar calçadas e perder o balanço das marés.
- Faz parar o tempo, meu amor, leva-me de volta ao mar.
Estranhou-lhe o gosto, o destino. Achava ele que era tempo de aportar. Apertou-a forte contra o peito.
- Se me falasses como se me amasses, repetiu-lhe. Acariciou-lhe o rosto e adormeceu.

faiscou na alba. Queriam-se quando os outros a sentiam.

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