quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Berenice, guardadora de fogo

Da lareira saltitavam labaredas brincalhonas que preenchiam as paredes de uma coloração quente, como se o sol ali tivesse deixado os seus vermelhos dourados de fim de dia. De vez em quando uma agitação mais vigorosa, precedida de um vento quase brando, levantava um lume intenso, logo morno de seguida, que acordava a sombra de Berenice e lampejava um sacudir intenso de pestanas.

- Será que acorda? Perguntavam-se as saltitantes labaredas, dançando mais alguns passos entre as lajes vigorosas da lareira, será que acorda? E numa doce audácia crepitavam em gélidas pontas azuladas que lambiam os dedos soltos de Berenice, buscando o cuidado que tinha em as proteger.

Berenice era guardadora de fogo. Comprometera-se, ainda ladina, em nunca deixar esmorecer o lume sagrado. A verdade é que lhe saltara para o regaço, numa noite fria, uma pequena labareda que lhe acariciara a face e lhe aquecera a alma, numa noite em que procurava apenas um abrigo quente. E, o fogo sussurrara-lhe de mansinho: Berenice, estamos a deixar o mundo, não há quem nos cuide, não há quem nos ame… Berenice acariciara então a pequena labareda e prometera ser uma eterna cuidadora do calor do mundo.

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