quarta-feira, 24 de julho de 2013

Uma História de Amor: Do acto do conhecimento "escreva qualquer coisa, sim?"


                                                                                                "  2-7-958


                                                Sr. Doutor

     Recebi sua carta e muito lhe agradeço a atenção que dedicou à minha modesta pessoa.
     Em presença de tal atenção não podia de forma alguma deixar de responder-lhe, pois julgo que não há carta alguma que não mereça resposta e demais tratando-se de uma pessoa pela qual tenho grande simpatia e consideração.
     Não sei se é disparate dizê-lo, mas creio que acima de tudo está a sinceridade, predicado que muito admiro, e como tal, vou sê-lo para si.É certo que algumas vezes me tenho prejudicado por esta minha maneira de ser, mas não me interessa, ser sincero é adorar a verdade e a franqueza.
     Pois Sr. Doutor, comigo passa-se a mesma coisa, isto é recordo também o desejo de nos podermos encontrar e falarmos um pouco, trocarmos as nossas impressões, mas creia que nunca  pela cabeça me passou que o sr. Doutor teria o mesmo desejo, pois mesquinha como sou sentir-me-ei um pouco inferiorizada junto de si. O nosso convívio foi pouco, por isso pouco ou nada dissemos, e muito poderíamos ter dito, mas no meio daquela confusão, daqueles olhares indiscretos, limitámo-nos apenas a saborear a música que parecia às vezes embalar-nos e a observar as reacções de cada.
     Muito gostava de estar mais uma vez com o sr. Doutor para falarmos um pouco, pois tenho sempre grande prazer em conviver com pessoas com mais conhecimentos do que eu, para não cristalizar. Aqui é impossível esse convívio.
      As pequenas de Moura convidaram-me para ir passar o domingo com elas, mas disse-lhes que não pois receava que o sr. Doutor pensasse que só ia lá por sua causa. Teria grande prazer se o visse e lhe falasse, mas desisti e resolvi ir a Beja ver uma "matinné" se a houvesse ou visitar umas amigas. Como vai também, essa notícia deu-me imensa alegria, pois como é o desejo de ambos, temos assim a oportunidade de nos voltar a ver e passear um pouco, talvez sem terceiros.
      Pode ser? devo ir daqui na auto-motora das 11h e 8m a não ser que queira ir na da tarde, o que para mim é um pouco tarde porque às 6h toda a gente anda passeando e como conheço lá muita gente é um bocado aborrecido se me vêem sózinha consigo.
     Escreva qualquer coisa, sim?
     Sou a Lucilia ao seu dispor.

P.S. Não me troque o nome."



                                                                             "15-7-958


                                           Meu querido



Não podes imaginar quanto me custou passar o domingo. A todo o momento me estava lembrando de ti.

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Estou como tu a contar os dias pelos dedos,mas parece que o tempo não anda, só quando estamos juntos é que ele foge.
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Dizes então que as algarvias ainda não te fizeram esquecer-me. Fico-te muito grata pelo amor que me dedicas e para ti meu querido vai todo o meu carinho, todo o meu amor.
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E pronto querido. Dize lá se não fui tua amiguinha, escrevendo logo após a recepção da tua carta? Para ti serei sempre pronta a escrever-te, mas não sei se te aborrecem as minhas longas cartas,

Num grande abraço beija-te a tua    Lucilia"

(in cartas de uma história de amor- espólio pessoal)

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