sábado, 19 de julho de 2014

encontra-me...

desceu o olhar pela parede. Descobriu-lhe uma ruga. Passou-lhe a palma da mão, na ruga. Sentiu-lhe o relevo, o bocadinho de despercebido na prega. Achou que podia por ali escapar-se, entrar nos caminhos que o tempo esculpia e foi-se.
Sombra seguiu-a. o caminho era estreito e sinuoso, ladeado por frondosos arbustos, sem grandes sinais de movimento. Apenas as patas de Sombra, se decalcavam na terra mole. Chegou-lhe o som do vento, ir-se-ia nele. Sombra seguiu-a.
"amo-te, pensava, por isso encontra-me - desejava", e afagava o pelo sedoso de Sombra. O vento revolvia-lhe os cabelos, passeava-lhe sonhos pelo rosto, esgueirava-se-lhe por entre as pernas e lambia-lhe o ventre.
Deitou-se na erva, encostou-se-lhe no peito e adormeceu.
Acordou. As rugas da parede sorriram-lhe. ele envolveu-lhe o corpo com os braços e beijou-lhe o ombro.
Sombra ronronava aos pés da cama.

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