quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

a noite era de Reis

quando nasceste era madrugada e amanheceste num sol imenso e luminoso. eu havia de me pôr bonita e luminosa, como o sol, para as visitas da tarde, mas da manhã só queria o sono em que se não tem receio.
e tu dormias, tão pequenino. Foi o tamanho da tua orelha, que os teus irmão levaram para te apresentar aos avós "Tão pequenina, mamã," disseram, "tão pequenina".
à tarde já estava luminosa como o sol e tu brilhante como as estrelas, e as visitas trouxeram risos, o som do mar, a cor das flores e cansaram-nos de elogios.
à noite choramos por ficarmos sós, que as noites nos hospitais nunca têm fim."porque não podes ficar comigo," disse a teu pai, "leva-nos, ficamos tão sozinhos". mas ficámos com as outras mães e os outros filhos e filhas, que ficavam sozinhos como nós.
Tão pequenina a tua orelha, tão bonita e tão misteriosamente quase igual à do teu pai. era assim, descobrir pedacinhos de ti, quando ficávamos sós.
Havia de nos trazer ouro, incenso e mirra, que a noite era de Reis. tinha dito teu pai.

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