domingo, 27 de outubro de 2019

às vezes, sei que devia ser nómada

Sei que devia ser nómada
mas às vezes há viagens em que decidimos outras histórias e ali estava eu, olhando o horizonte pintado de linhas alvas, sufocada de paixão nesse beijo, ainda solto nos meus lábios, e os pensamentos distraídos nos meus olhos

não sei se há vazios.
Acontece que às vezes as estrelas e os planetas preenchem tudo o que é espaço.
sei que há imensidões que parecem vazias por estarem tão cheias,
às vezes aguardo que nasça esse universo.

havia nas palavras o som do vazio: "acho que a virgindade está na nudez"
e de repente pareço estar sozinha, assim sem mais
nessa beleza de tudo mostrar que apaga toda a maldade

"gosto de ter amigos crentes. emprestam-me o sabor da beleza da crença iluminada."
do meu lado fazem-me sentir crente, às vezes
quando as saudades me fazem comichão, naquele sítio onde a respiração se junta com o suspirar

Às vezes abraço-me.
encosto o meu corpo à sensação e deixo tombar nos joelhos, o meu rosto
então o Sol espreguiça-se sobre o mar, desenha uma estrada dourada até ao horizonte
Às vezes apetece-me caminhar por ali

O rapaz andava de gola alta na camisola verde escura, tinha a cabeça como a Terra, achatada, e o rosto branco onde caíam uns fiapos grossos do cabelo cortado à tigela.
às vezes parecia grande e de grande sabedoria, ainda que fosse pequeno e não soubesse o que dizia

a minha casa é onde eu souber fazer pão,
mas às vezes sei que devia ser nómada

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