quinta-feira, 10 de novembro de 2011

no reino das cerejeiras

a perna semiflectida balouçou, como se uma suave brisa a empurrasse, e emprestou ao corpo o balanço de preguiça enroscada e sonolenta. Esticou o braço e em delicado gesto puxou o pé de cerejas que logo prendeu sobre as orelhas. Deixou tombar o corpo, arqueando-se levemente pela cintura, dormitando a nuca sobre os ombros, cabelos soltos, virados ao solo, e o vermelho forte das cerejas em saracoteante movimento... e baloiçou na morna aragem do calor de Junho, sob um tecto de folha verdejante.
- Teresinha, gostas dos meus brincos compridos? e sacudiu a cabeça abanicando os bagos de cereja presos nas orelhas. - Pareço mesmo uma artista, não é? e os cabelos esvoaçaram com maior velocidade lançando os brincos de cereja em rápidos movimentos.
-E os meus, Luz, já viste têm três cerejas. Os teus é só duas! Teresinha sorriu divertida enquanto começava a trepar o tronco da cerejeira indo sentar-se no galho oposto ao de Luz. - Eu sou uma princesa, disse, recostando-se no enlace do tronco com o ramo. Delicadamente deixou pender a perna e embalou-se no balancear do corpo, pendentes os pesados e escarlates brincos de três bagos.
- Luz, vou comê-las. está aqui um cachito com quatro cerejas, assim vou ser fada. E atirou uma gargalhada.
- Ohhh! gemeu Luz, assim não vale! e continuou em suave balancé, corpo arqueado sobre o ramo, cerejas sobre as orelhas.
Sob a copa da cerejeira a sombra amaciava o calor do fim da manhã. No chão, as cestas pendiam de nagalhos presos nos ramos e esperavam rechear-se de cerejas.
Teresinha e Luz, continuaram, princesas do reino das cerejeiras. Até à hora de içar as cestas.

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