segunda-feira, 7 de novembro de 2011

o silêncio dos deuses

e desceram o trilho sinuoso cercado de barrocos graníticos em insólitas e quase inverosímeis posições. Ouviam os sons das pedras por nada mais se ouvir, atormentados pelos passos que ecoavam como tambores, estranhos nesse universo de silêncios.
No abrir da curva soou-lhes aquele ziguezaguear de água, uma corrente estreita e brilhante lá bem no fundo do vale, ecoando mais silêncios.
As pedras estavam lambidas do preto cinza de um fogo intenso que apagara qualquer cor de qualquer planta e na aragem ainda  se soltava o cheiro do fumo, impregnando de calor  a atmosfera fria do amanhecer.  Bizarro strip tease que fazia soar em gritos roucos de pesar, o imenso barrocal na sua imponente e aparente frieza, chorando as giestas  e as oliveiras,  despido de protecção e que lhes inundava a alma de imensidão.
E estavam ali, aquela oliveira, carregada de um fruto grado e escuro, mesmo à beira de um barroco doce em jeito de sentinelas de um olival que o trilho tinha salvo das labaredas. Ali pararam, as palmas das mãos a acariciarem o rugoso daquele granito o olhar lançado pelos meandros de colinas e barrocos que pelo vale abaixo se despejavam na invisível corrente de água e quase lá brilhava em branco um pombal.


sabes a que cheira, este silêncio? perguntou. Ele olhou-a sem perceber. - Ouve, ouve este silêncio, a que te cheira?
 O silêncio latejou em cheiros, nos sons inaudíveis dos badalos de um rebanho a que se sentia o movimento lá bem no fundo do vale, e sorriram.
Estavam ali, os deuses

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