domingo, 8 de julho de 2012

Tróia num vestido de estrelas

a casa era na areia. tinha uma linha azul em toda a volta e depois era branquinha, como a cal! Ao redor haviam mais casas, não eram muitas, mas eram algumas. quase todas tinham a linha azul, em toda a volta, mas uma ou outra eram como castelos, com jardins de plantas da areia (aquelas que são carnudas e algumas têm picos). Benedita gostava mais das que tinham a linha azul, como a dela. Mal abria a porta e passava o lancil do degrau, escorregava-lhe o pé pela areia dourada, quente e fofa e estava na praia. À noite a areia era fresca e cheirava a pinho e a plantas carnudas. às vezes iam lá os saltimbancos, fazer teatros e palhaçadas. Então as pessoas grandes e as crianças, juntavam-se na clareira de areia do pinhal, toda rodeada de tochas em fogo, e viam o espectáculo! batiam muitas palmas e riam-se muito. Uma vez Benedita ficou muito surpreendida porque o palhaço engoliu uma vela que saiu no rabiosque, acesa!!! Como é que tinha saído acesa é que era surpreendente!
a noite era quente, percorrida pela leve brisa que agitava as agulhas dos pinheiros mansos e os pés metiam-se pela areia, no trajecto até casa, desenhando os corpos sombras alongadas pela praia da luminosidade das tochas da arena.
O marulhar da água embalava as conversas e as brincadeiras, junto às casas, antes das boas noites. O rio que se envolvia no mar estava cheio de estrelas. Benedita foi molhar os pés e tocar nas estrelas. Sindala sorriu-lhe do dorso de uma medusa.
Correram em despique até casa. Benedita disse-lhe que gostava de ter uma roupa de estrelas, ou de pássaros. É que havia uma menina na casa com jardim de plantas de praia, que lhe estragava os bolos de areia. Pumba! dava-lhes com a mão espalmada que até a areia lhe saltava para a boca. Com as estrelas ou os pássaros nos vestidos já podia pôr os bolos nos beirais dos telhados. _ "Humm!, vamos ver" - disse Sindala e saltou para um fio de lua.
A cama estava quentinha e a mãe tinha-lhe lavado a areia dos pés. Sonhou com viagens pelo céu, num lindo vestido.
Acordou com o Sol. Abriu a porta, galgou o lancil e o pé escorregou-lhe na areia quente e fofa. Sobre o verde aguado do mar com mistura de rio, Sindala sorria-lhe com um vestido de estrelas nas mãos.

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