sexta-feira, 23 de outubro de 2015

o lugar da alma

foi passear pela alma. tinham-lhe dito que era branca e leve e que tremia com as emoções.
Benedita não sabia bem o que eram as emoções, mas quando a mãe lhe afagara os cabelos e lhe soprara a oração ao anjo da guarda sentira um suspiro no peito. foi quando a mãe lhe disse que era a alma a pular de contentamento.
Decidiu passar a gostar da sua alma porque era bom senti-la dentro do peito, aos pulos. a mãe tinha-lhe dito que os contentamentos eram como passarinhos, e sempre que se voava a alma ficava feliz.
sentou-se no cimo das escadas traseiras. verdejavam os campos de ervas altas e havia andorinhas no céu. a gata vadia estendia-se no degrau logo abaixo dos seus pés. o sol já fugira do horizonte e começara a luz do lusco-fusco.
Benedita pôs a mão sobre o peito para sentir os pulos da alma. Fechou os olhos e esperou que luzissem os pirilampos. o pai dizia que alumiavam o caminho até à alma.
Quando a alma saltou e abriu os olhos, luziram mil pirilampos.
Benedita tremeu de emoção. A alma sorriu, Benedita também.

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