sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

em jeito de sinfonia

lá estava, aquele pequeno reduto mágico, flor de pedra e cal por entre os canteiros geométricos do jardim do centro da vila. Avivava-se na Primavera e explodia nas noites quentes de Verão. Nas festas então, derramava-se sobre as gentes agitando, sobre os amores perfeitos de colorido intenso, colcheias e semibreves que os tocadores da banda nos seus fatos de gala ali gemiam ou vibravam.
Eu gostava mais do tempo da Primavera, por norma ao Domingo. Os sons que bem cedo acordavam as gentes piscavam encantamentos e a romaria começava mais cedo. Atrás da banda começava o povo a movimentar-se e a praça ajardinada enchia-se. A rala teia de cadeiras rapidamente lotava. De pé, em curtas passeatas, os vilanenses trocavam breves cortesias e sorrisos de bons dias aconchegando de afectos as sinfonias da filarmónica.
À volta ou ziguezagueando por entre as roupas domingueiras, corriam saias plissadas e rodados vestidos floridos das gaiatas num jogo de apanhada procurando distrair os cachopos que jogavam à carica no lancil do passeio.
E a banda tocava: clarinetes, saxofones e tubas e pratos e tambores tornavam-se a orquestra elegante e culta do domingo de Primavera, que o Sol aquecia. Então o coreto iluminava-se, o tempo parava, só a música em suaves ondulações preenchia o espaço e embalava os solfejos dos corpos, até à hora da missa.
Eu? eu ia entrando no templo, de saia plissada,bem agaitada , saracoteando os ombros em jeito de sinfonia, levando coreto e banda e tempo de fantasia.
Quem dera, amanhã ser Domingo na vila.


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