domingo, 11 de dezembro de 2011

nascer

não explodiu de amor nos primeiros dias. O nascimento tinha sido um acto de magia e apenas o olhava, extasiada.
O parto tinha sido longo e difícil. Tão longo que nem lembrava a dor só o cansaço permanecia.
Tinha temido apenas não ter força para o trazer à vida. Entre lavagens da ventosa de uma parteira pragmática, gritos de incentivo do, com certeza assustado mas motivador insane, companheiro e alguma desorientação do obstreta, deu o vitorioso puxão que trouxe logo um vagido choroso. Ainda pernas e braços recolhidos, sexo desconhecido. Não era tempo de ecografias e apesar de se poderem fazer, quis permitir-se imaginar o ser menina ou menino, ainda que o desejo pudesse ter uma preferência.
- Não mo leve...pediu à parteira que apressada pretendia tratar da limpeza da criança - quero-o sobre o meu peito - e a voz sumia-se no cansaço, apesar do olhar brilhante. Era perfeito e era um menino, logo lhe tinham dito e, pegado como um coelho coberto de uma leve gordura esbranquiçada, assim a parteira lho colocou, sobre o peito, pés virados para o rosto, sem poder olhar os olhos algures fixados. E acariciou-lhe, breve, as pernas roliças e pegajosas, que a parteira de forma rápida lhe surripiou ao contacto, que era hora de terminar a tarefa. Eram 4.40H. Tinha 4 quilos.
Então não explodiu de amor, olhava-o e dizia: - Não percebo como saiu de dentro de mim, já percebeste como aconteceu? perguntava vezes sem conta ao também extasiado companheiro.
E não o sentia seu. Temeu não ser normal. Aquele amor de mãe que tanto ouvira falar, não estava lá ou então não sabia o que era. Mas adorava olhá-lo e quase com temor afagar aquela carinha e contar-lhe os dedos um a um. Mas ai...a explosão de amor, não sabia onde estava.
Saiu orgulhosa e triste da maternidade. Aquele vazio do ventre não se preenchia.
Naquela noite, na mamada da madrugada, o menino engasgou-se. Tempo demais, não sabia o que fazer, nem conseguia gritar.
A avó  que ainda cirandava pela cozinha, entrou porta dentro, casualmente e casualmente percebeu que algo não estava bem. Entregou-lhe o bébé, olhar culpado de angústia crescente e disse: - Mãe ele não respira.
O arroxeado da pele, os "então, bébé, então" da avó, que começava a mostrar sinais de angústia por entre os sopros que lhe fazia, apertaram-lhe o coração tanto e de tal modo que apenas dizia: - Mãe, mãe, o meu bébé, o meu bébé...
 Ele respirou, chorou e ela explodiu de amor.

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