terça-feira, 23 de outubro de 2012

o passarinho branco

passeou a mão na penugem do pardalito, que tinha acomodado sobre a colcha da cama. subia-lhe e descia-lhe o peito num arfar forte em busca da vida. Benedita sentia-lhe o coração em desenfreada batida, numa corrida sem tempo. Passeou-lhe os dedos sobre as penas, no corpo ainda quente e ajeitou-se estendida ao seu lado. Cantou-lhe uma música secreta, tão secreta que só o coração a sabia entoar. Lailai, lailai lirai, falavam encantos no ar para a asa reparar; lirai, lailai, lailai sopravam notas soltas pelo ar para o pardalito voar. No embalo feneceu, e Benedita entristeceu. Alcançou a caixinha que a mãe lhe tinha dado e o rolo branco de algodão. Fez-lhe uma linda cama com um malmequer ao lado e no quintal o adormeceu.
lailai, lailai, lirai lirai lailailailai, entoou a mágica melodia e agitou os braços como se voasse.
Sindala sentou-se sobre as rosas abriu os braços e acolheu o voo de Benedita no seu colo. Encostou-lhe o rosto ao peito, levantou-lhe o queixo e disse-lhe: "Benedita, vês aquele passarinho branco? escuta como canta!"
-"lirailailailiarailirai" cantou o passarinho branco e soltou-se num voo sem fim.
Benedita desatou numa corrida gargalhada atrás do gato pintado.

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