domingo, 21 de outubro de 2012

sem saída

a sala de espera abria-se numa portada larga para um páteo, aparentemente ajardinado. Mas só isso, aparentemente. A luz ali entrada era cinzenta, baça, tornando o espaço, lúgubre, triste e a fervilhar de culpas. Estavam sentadas numa banqueta almofadada encostada à parede, à espera. E enquanto esperavam, os múltiplos olhares de fotos de famílias, a preto e branco, recheadas de rechonchudos bébés, penduradas nas paredes, em todas as paredes da sala, murmuravam segredos e censuras.
Era um Julho quente, e o princípio da tarde estava sufocante.
A sala não era desconhecida, já por lá tinha passado para contratar o serviço, mas contratar podia ser não acontecer. Agora as fotos mordiam-lhe a culpa e o silêncio agigantava-se no diálogo em tom insonoro que trocava com a amiga. Estranhamente, as crianças das fotos não a deixavam sair!
Assim começava a história que Catalia trazia a Balbuína, de Cuzcar. Tinha acabado o tempo da toma do chá de folha de oliveira e Balbuína precisava de cerzir os primeiros retalhos da sua manta.

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