segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Teimosias :)

escanchou-se no burrico, ajeitando-se na albarda meia solta. agarrou-se-lhe nas crinas, que curtas não lhe garantiam grande segurança. Morria de medo de cair e morria de vergonha de não conseguir montar.
Por algum motivo, os burros não andavam quando Benedita neles se escanchava. teimosamente fincavam os cascos ferrados na pedra da estrada e...nada! Decidiam,umas vezes zurrar e abanar a cabeça e outras baixá-la como se houvera manjedoura cheia de rico manjar.
Por mais que desse aos pés para picar o jerico, este não arredava pata. Às vezes uns puxões nas rédeas dados pelo primo permitiam-lhe curtas viagens nas quais o desequilíbrio do escorregar da albarda no pelo do  "Malhado", só lhe aumentava o pavor. Por isso morria de medo de cair e de vergonha por não conseguir montar.
 É que um burro não era um cavalo, e não havia na aldeia quem fosse incapaz de se transportar de burro...Era ver no dia da feira na vila os burros albardados, com gigas e alforges recheados de hortaliças, ou frutas e cereais e, bem sentadinhas, de lado, lá iam as aldeãs, novas e velhas em calma burricada estrada acima. Portanto, assim pensava Benedita, ninguém aprendia a andar de burro, só ela, e mesmo assim a odisseia parecia não ter fim.
Escanchou-se no burro, e logo se esticou sobre o pescoço, agarrada ao pêlo, que a albarda descaía. Nas mãos prendia as rédeas que mais a prendiam a ela, e fechou os olhos (aquela mania do jumento baixar a cabeça era temível). Apertou os joelhos nas ilhargas do Malhado e estalou a língua: "Anda, Malhado, xôôô"... E nada, fincou-se na terra do caminho e nem um passo.
Rolou-lhe uma lágrima que não conseguia limpar, não fosse cair.
Não caiu, mas também não foi à feira escanchada no burrico!


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