Em defesa da língua portuguesa, este blog não adopta o "Acordo Ortográfico" de 1990 devido a este ser inconstitucional, linguísticamente inconsistente, estruturalmente incongruente (para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral)
quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
amado meu amado
encanta-me meu amado, deita-te comigo na eternidade.
Lá, no princípio das manhãs quando o teu olhar toca a curva do meu ombro e os teus lábios se afogam no meu pescoço, meu amado deixa-me acordar no teu olhar.
é que os dias estão cinzentos e me encantou o corpo, a névoa.
desperta-me meu amado, beija-me ao amanhecer,
Lá, no dealbar dos tempos, onde a névoa é o teu sopro, ama-me sofrego, ama-me terno sobre a terra.
eTernamente, meu amado deixa-me viver no teu olhar.
amado meu amado, meu corpo, minha vida deita-te comigo na eternidade.
sábado, 21 de dezembro de 2013
era uma vez...um presépio (tempo1) o musgo
era uma manhã gélida e orvalhada.
Seguiram pela quelha ladeada de muros de granitos soltos em busca dos tufos de musgo que iam atapetar a terra de Deus. não chovia mas o ar estava pejado de gotas que se lhes colavam nos rostos e nas farripas de cabelo que espreitavam sob os gorros de lã. era como uma sauna fria, aquecidos os corpos pelo caminhar apressado, as bocas fumegantes nas faces coradas e um brilho estrelado nos olhares...
os musgos passeavam-se pelo empedrado: uns mais ralos outros mais espessos e verdes mas pequeninos ainda para os propósitos a que se destinavam. O ar frio e molhado não convidava a ir além da fronteira do casario no encalce dos musgos dos pinhais pejados de caruma e pequeninos fetos, por isso era mesmo ali que precisavam de o lascar...todos os pedaços que cobrissem mais que uma pedra eram desejáveis.
Pousarem a cesta. as facas rombas serviam para iniciar a tarefa do desapego da planta à pedra como se de uma esfoliação suave se tratasse de forma a que a placa de musgo se largasse inteira e densa. não que as mãos fossem a melhor ajuda, que o frio as tornava garanhas e lhes arroxeava as pontas dos dedos, o que significava que uma ou outra placa de musgo se escangalhava quando as seguravam nas pontas insensíveis e as depositavam na cesta.
E a manhã continuava gélida e orvalhada.
- Já está! disse Benedita quando colocaram na cesta o musgo centésimo primeiro. - Anda, vamos, já podemos fazer o presépio. Agarraram no peso das asas, ela de um lado ele do outro, seguiram na volta da quelha, subiram a escadaria e, corredor fora, acolheram-se no fogo da lareira onde a avó resmungava das modernices que faziam ao menino Deus que, dizia ela, devia estar apenas no coração dos homens. Que canseira esta avó- pensava Benedita - mas depois ela havia de gostar.
A roupa fumegava com o calor do lume, tal a orvalhada da rua e sabia bem encharcarem-se no cheiro quente do fumo. as faces afogueavam-se e os dedos ardiam do sangue que por lá voltava a correr. gargalharam e contaram do frio da rua e de como tinham grandes e lindos bocados de musgo. o presépio ia ficar lindo!
a grande pedra de granito, uns calhaus rolados, uns quartzos e as caixas viradas espalharam-se na soleira da janela e vestiram-se de musgo verde, sedoso e húmido, envolvido no céu de cartolina azul escura com milhares de estrelas prateadas. Desenharam monte e vales que pratearam de rios e lagos. Ao longe bem perto do princípio do céu espalharam as areias de um deserto onde poisaram a caravana dos reis magos. semearam carreiros e estradas e bem por baixo da estrela grande o estábulo.
Benedita estendeu-se no chão mãos sob o queixo e achou que aquele era o mais lindo musgo para nascer o menino.
Seguiram pela quelha ladeada de muros de granitos soltos em busca dos tufos de musgo que iam atapetar a terra de Deus. não chovia mas o ar estava pejado de gotas que se lhes colavam nos rostos e nas farripas de cabelo que espreitavam sob os gorros de lã. era como uma sauna fria, aquecidos os corpos pelo caminhar apressado, as bocas fumegantes nas faces coradas e um brilho estrelado nos olhares...
os musgos passeavam-se pelo empedrado: uns mais ralos outros mais espessos e verdes mas pequeninos ainda para os propósitos a que se destinavam. O ar frio e molhado não convidava a ir além da fronteira do casario no encalce dos musgos dos pinhais pejados de caruma e pequeninos fetos, por isso era mesmo ali que precisavam de o lascar...todos os pedaços que cobrissem mais que uma pedra eram desejáveis.
Pousarem a cesta. as facas rombas serviam para iniciar a tarefa do desapego da planta à pedra como se de uma esfoliação suave se tratasse de forma a que a placa de musgo se largasse inteira e densa. não que as mãos fossem a melhor ajuda, que o frio as tornava garanhas e lhes arroxeava as pontas dos dedos, o que significava que uma ou outra placa de musgo se escangalhava quando as seguravam nas pontas insensíveis e as depositavam na cesta.
E a manhã continuava gélida e orvalhada.
- Já está! disse Benedita quando colocaram na cesta o musgo centésimo primeiro. - Anda, vamos, já podemos fazer o presépio. Agarraram no peso das asas, ela de um lado ele do outro, seguiram na volta da quelha, subiram a escadaria e, corredor fora, acolheram-se no fogo da lareira onde a avó resmungava das modernices que faziam ao menino Deus que, dizia ela, devia estar apenas no coração dos homens. Que canseira esta avó- pensava Benedita - mas depois ela havia de gostar.
A roupa fumegava com o calor do lume, tal a orvalhada da rua e sabia bem encharcarem-se no cheiro quente do fumo. as faces afogueavam-se e os dedos ardiam do sangue que por lá voltava a correr. gargalharam e contaram do frio da rua e de como tinham grandes e lindos bocados de musgo. o presépio ia ficar lindo!
a grande pedra de granito, uns calhaus rolados, uns quartzos e as caixas viradas espalharam-se na soleira da janela e vestiram-se de musgo verde, sedoso e húmido, envolvido no céu de cartolina azul escura com milhares de estrelas prateadas. Desenharam monte e vales que pratearam de rios e lagos. Ao longe bem perto do princípio do céu espalharam as areias de um deserto onde poisaram a caravana dos reis magos. semearam carreiros e estradas e bem por baixo da estrela grande o estábulo.
Benedita estendeu-se no chão mãos sob o queixo e achou que aquele era o mais lindo musgo para nascer o menino.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
o tempo de dentro
gostava dos dias compridos, tão compridos que nem tinham tempo. passava os dias compridos a perder-se dentro do milheiral que se abria do outro lado da rua. as canas chegavam ao céu. Eram tão compridas quando olhava o azul lá de cima que acreditava que se as pudesse trepar ia encontrar a terra das fadas.
Acordou num dia comprido, entrou no labirinto verde e saiu do tempo das coisas certas. dentro dos trilhos das canas, por entre maçarocas, barbas e folhas largas ia espreitando o azul por onde chegava a voz da mãe quando era preciso voltar ao tempo de fora. Suspirou, encolheu os ombros e caminhou pelo tempo de dentro. Fechou os olhos e deixou que as mãos fossem esbarrando nos caules e as folhas e barbas mais compridas lhe arranhassem o rosto. sabia-lhe a boca ao milho verde, ainda tenro e leitoso levemente adocicado que costumava rapinar de uma ou outra maçaroca nas suas jornadas. mais p`ra logo haveria de os comer, aos bagos.
- Benediiiiita, Benediiiiiiiita, para casa. Soava-lhe a voz da mãe pelo azul do céu e já tinham passado milhares de tempos. disse adeus às formigas, seguiu o som e entrou no tempo de fora, o certo. Não sabia se havia de contar à mãe da fada, tinha sido há tanto tempo....decidiu que era melhor falar das formigas e dos carreiros.
gostava dos dias compridos, de caminhar no tempo de dentro, sem tempo.
domingo, 8 de dezembro de 2013
olhar do meu amor
gosto que me olhes assim, quando o teu olhar me aquece o rosto e se encanta no meu corpo.
gosto do pudor que me envolve ao caminhar no teu olhar, que me tomes, que me adores.
deseja-me então de mansinho, afaga-me com ardor.
fica em mim olhar do meu amor.
gosto que me olhes assim.
gosto do pudor que me envolve ao caminhar no teu olhar, que me tomes, que me adores.
deseja-me então de mansinho, afaga-me com ardor.
fica em mim olhar do meu amor.
gosto que me olhes assim.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2013
mesmo quando eu não existir?
- e depois?
- depois?!
- ficas sempre comigo, mesmo quando o sol que está no céu estiver quase a morrer?
- sempre...
- mesmo quando eu não existir?
- sempre...
aninhou-se-lhe no colo, escorregou-lhe os dedos pelos lábios e fechou os olhos. O arcanjo envolveu-os e cairam do céu.
o lago baloiçava barquinhos, nenúfares e restinhos de sol.
- olá!
- Olá!
- Como te chamas?
- Basil.
- Ah! Basil eu sou Sindala. Quantos anos tens?
- Humm...esqueci-me, mas disseram-me que muitos.
Basil sorriu, coçou a cabeça e apanhou um restinho de sol.
- Toma, para ti, disse a Sindala.
- Porquê?
- o sol está quase a morrer....
- Ficas comigo?
- Sempre...
apertou-lhe a mão com o restinho de sol, sentaram-se à beira do lago e cairam do céu.
...........
- Olá!
- Olá!
O sol nasceu e olharam-se como sempre.
- depois?!
- ficas sempre comigo, mesmo quando o sol que está no céu estiver quase a morrer?
- sempre...
- mesmo quando eu não existir?
- sempre...
aninhou-se-lhe no colo, escorregou-lhe os dedos pelos lábios e fechou os olhos. O arcanjo envolveu-os e cairam do céu.
o lago baloiçava barquinhos, nenúfares e restinhos de sol.
- olá!
- Olá!
- Como te chamas?
- Basil.
- Ah! Basil eu sou Sindala. Quantos anos tens?
- Humm...esqueci-me, mas disseram-me que muitos.
Basil sorriu, coçou a cabeça e apanhou um restinho de sol.
- Toma, para ti, disse a Sindala.
- Porquê?
- o sol está quase a morrer....
- Ficas comigo?
- Sempre...
apertou-lhe a mão com o restinho de sol, sentaram-se à beira do lago e cairam do céu.
...........
- Olá!
- Olá!
O sol nasceu e olharam-se como sempre.
terça-feira, 3 de dezembro de 2013
as tardes que esperavam os tempos
respirou a vida.
inalou-se das melodias que o sol escrevia nas linhas de vento e lembrou-se das andorinhas pousadas em pautas em dia de partida. Eram nesse tempo dias de ventos, de tardes que esperavam os tempos para o tempo ser.
Benedita pendurou-se no portão de ferro forjado, trepou pela cancela ao topo da coluna de granito que o alicerçava e pendurou as pernas para o lado da estrada. o céu pintava-se do azul cinzento que o sol deixara ao esconder-se atrás da colina das grandes pedras.
rasgaram o céu enquanto os fios baloiçaram as notas que tinham escrito. Nos beirais os ninhos ficavam sózinhos, aqui e ali umas penas soltas presas nas pequeninas aberturas. Benedita esticou o dorso na pedra áspera a saber ainda ao quente do fim do dia e as andorinhas desenharam dezenas de pontos pretos mesmo no céu que os seus olhos viam.
ouviu a música que o bater das asas tocava. naquele dia soava a harpa. era a melodia escolhida para esperarem o tempo de se saberem o bando daquele dia e partirem, para além do sol.
Benedita partia com elas, um bocadinho, todos os dias. mesclava-se na agitação do bando, e voava o olhar para cá e para lá num adeus de até breve. eram as tarde que esperavam os tempos até a mãe a chamar para a mesa do jantar.
Andava à procura dessa tarde. quando a encontrou respirou a vida, inalou-se de melodias e lembrou-se das andorinhas.
inalou-se das melodias que o sol escrevia nas linhas de vento e lembrou-se das andorinhas pousadas em pautas em dia de partida. Eram nesse tempo dias de ventos, de tardes que esperavam os tempos para o tempo ser.
Benedita pendurou-se no portão de ferro forjado, trepou pela cancela ao topo da coluna de granito que o alicerçava e pendurou as pernas para o lado da estrada. o céu pintava-se do azul cinzento que o sol deixara ao esconder-se atrás da colina das grandes pedras.
rasgaram o céu enquanto os fios baloiçaram as notas que tinham escrito. Nos beirais os ninhos ficavam sózinhos, aqui e ali umas penas soltas presas nas pequeninas aberturas. Benedita esticou o dorso na pedra áspera a saber ainda ao quente do fim do dia e as andorinhas desenharam dezenas de pontos pretos mesmo no céu que os seus olhos viam.
ouviu a música que o bater das asas tocava. naquele dia soava a harpa. era a melodia escolhida para esperarem o tempo de se saberem o bando daquele dia e partirem, para além do sol.
Benedita partia com elas, um bocadinho, todos os dias. mesclava-se na agitação do bando, e voava o olhar para cá e para lá num adeus de até breve. eram as tarde que esperavam os tempos até a mãe a chamar para a mesa do jantar.
Andava à procura dessa tarde. quando a encontrou respirou a vida, inalou-se de melodias e lembrou-se das andorinhas.
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