sábado, 21 de dezembro de 2013

era uma vez...um presépio (tempo1) o musgo

era uma manhã gélida e orvalhada.
Seguiram pela quelha ladeada de muros de granitos soltos em busca dos tufos de musgo que iam atapetar a terra de Deus. não chovia mas o ar estava pejado de gotas que se lhes colavam nos rostos e nas farripas de cabelo que espreitavam sob os gorros de lã. era como uma sauna fria, aquecidos os corpos pelo caminhar apressado, as bocas fumegantes nas faces coradas e um brilho estrelado nos olhares...
os musgos passeavam-se pelo empedrado: uns mais ralos outros mais espessos e verdes mas pequeninos ainda para os propósitos a que se destinavam. O ar frio e molhado não convidava a ir além da fronteira do casario no encalce dos musgos dos pinhais pejados de caruma e pequeninos fetos, por isso era mesmo ali que precisavam de o lascar...todos os pedaços que cobrissem mais que uma pedra eram desejáveis.
Pousarem a cesta. as facas rombas serviam para iniciar a tarefa do desapego da planta à pedra como se de uma esfoliação suave se tratasse de forma a que a placa de musgo se largasse inteira e densa.  não que as mãos fossem a melhor ajuda, que o frio as tornava garanhas e lhes arroxeava as pontas dos dedos, o que significava que uma ou outra placa de musgo se escangalhava quando as seguravam nas pontas insensíveis e as depositavam na cesta.
E a manhã continuava gélida e orvalhada.
- Já está! disse Benedita quando colocaram na cesta o musgo centésimo primeiro. - Anda, vamos, já podemos fazer o presépio. Agarraram no peso das asas, ela de um lado ele do outro, seguiram na volta da quelha, subiram a escadaria e, corredor fora, acolheram-se no fogo da lareira onde a avó resmungava das modernices que faziam ao menino Deus que, dizia ela, devia estar apenas no coração dos homens. Que canseira esta avó- pensava Benedita - mas depois ela havia de gostar.
A roupa fumegava com o calor do lume, tal a orvalhada da rua e sabia bem encharcarem-se no cheiro quente do fumo. as faces afogueavam-se e os dedos ardiam do sangue que por lá voltava a correr. gargalharam e contaram do frio da rua e de como tinham grandes e lindos bocados de musgo. o presépio ia ficar lindo!
a grande pedra de granito, uns calhaus rolados, uns quartzos e as caixas viradas espalharam-se na soleira da janela e vestiram-se de musgo verde, sedoso e húmido, envolvido no céu de cartolina azul escura com milhares de estrelas prateadas. Desenharam monte e vales que pratearam de rios e lagos. Ao longe bem perto do princípio do céu espalharam as areias de um deserto onde poisaram a caravana dos reis magos. semearam carreiros e estradas e bem por baixo da estrela grande o estábulo.
Benedita estendeu-se no chão mãos sob o queixo e achou que aquele era o mais lindo musgo para nascer o menino.

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