segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

o tempo de dentro



gostava dos dias compridos, tão compridos que nem tinham tempo. passava os dias compridos a perder-se dentro do milheiral que se abria do outro lado da rua. as canas chegavam ao céu. Eram tão compridas quando olhava o azul lá de cima que acreditava que se as pudesse trepar ia encontrar a terra das fadas.
Acordou num dia comprido, entrou no labirinto verde e saiu do tempo das coisas certas. dentro dos trilhos das canas, por entre maçarocas, barbas e folhas largas ia espreitando o azul por onde chegava a voz da mãe quando era preciso voltar ao tempo de fora. Suspirou, encolheu os ombros e caminhou pelo tempo de dentro. Fechou os olhos e deixou que as mãos fossem esbarrando nos caules e as folhas e barbas mais compridas lhe arranhassem o rosto. sabia-lhe a boca ao milho verde, ainda tenro e leitoso levemente adocicado que costumava rapinar de uma ou outra maçaroca nas suas jornadas. mais p`ra logo haveria de os comer, aos bagos.
- Benediiiiita, Benediiiiiiiita, para casa. Soava-lhe a voz da mãe pelo azul do céu e já tinham passado milhares de tempos. disse adeus às formigas, seguiu o som e entrou no tempo de fora, o certo. Não sabia se havia de contar à mãe da fada, tinha sido há tanto tempo....decidiu que era melhor falar das formigas e dos carreiros.
gostava dos dias compridos, de caminhar no tempo de dentro, sem tempo.

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