terça-feira, 3 de dezembro de 2013

as tardes que esperavam os tempos

respirou a vida.
inalou-se das melodias que o sol escrevia nas linhas de vento e lembrou-se das andorinhas pousadas em pautas em dia de partida. Eram nesse tempo dias de ventos, de tardes que esperavam os tempos para o tempo ser. 
Benedita pendurou-se no portão de ferro forjado, trepou pela cancela ao topo da coluna de granito que o alicerçava e pendurou as pernas para o lado da estrada. o céu pintava-se do azul cinzento que o sol deixara ao esconder-se atrás da colina das grandes pedras.
rasgaram o céu enquanto os fios baloiçaram as notas que tinham escrito. Nos beirais os ninhos ficavam sózinhos, aqui e ali umas penas soltas presas nas pequeninas aberturas. Benedita esticou o dorso na pedra áspera a saber ainda ao quente do fim do dia e as andorinhas desenharam dezenas de pontos pretos mesmo no céu que os seus olhos viam.
ouviu a música que o bater das asas tocava. naquele dia soava a harpa. era a melodia escolhida para esperarem o tempo de se saberem o bando daquele dia e partirem, para além do sol.
Benedita partia com elas, um bocadinho, todos os dias. mesclava-se na agitação do bando, e voava o olhar para cá e para lá num adeus de até breve. eram as tarde que esperavam os tempos até a mãe a chamar para a mesa do jantar.
Andava à procura dessa tarde. quando a encontrou respirou a vida, inalou-se de melodias e lembrou-se das andorinhas.

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