Em defesa da língua portuguesa, este blog não adopta o "Acordo Ortográfico" de 1990 devido a este ser inconstitucional, linguísticamente inconsistente, estruturalmente incongruente (para além de, comprovadamente, ser causa de crescente iliteracia em publicações oficiais e privadas, na imprensa e na população em geral)
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
o sal do teu corpo
aperto-te em mim, corpo a corpo poro a poro,
entre nós o cheiro a brisa de maresia de fim de tarde
o sal do teu corpo a adoçar-me os lábios
...e tombo o meu rosto sobre o teu ombro
em terno encanto de protecção
ali te amo, ali te construo
ali, no princípio da criação
sábado, 29 de outubro de 2011
o tempo da lama
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
"Fur Elise" e o piano de cauda
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
sobre o amor (de meu pai)
e se eu tirar os sapatos, meu amor?
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
medos
domingo, 9 de outubro de 2011
o borboletear de Benedita
o passeio alargava-se para se encostar a uma parede redonda de um branco um pouco escuro. Desse espaço explodiam canteiros geometricamente uniformes onde os amores perfeitos fulgiam de cores vivas e matizados inesquecíveis. Era Primavera, o toque aveludado das pétalas apetecia a carícia do Sol...E ali se debatia na seda de uma teia que lhe tolhia os passos e lhe fascinava o olhar. As pálpebras tremeluziam o bater das asas e os olhos encantavam-se naquele tapete suave e como se fora marioneta esvoaçava os braços, adornadas as mãos de uma ou outra mariposa fugidia. Entrava naquele mundo. Do outro lado da teia ficava a estrada onde continuava a andar, o olhar curioso virado para aquele fulgir e do lado de dentro podia devagarinho cirandar por entre os quadrados, os triângulos e os "losangulos". O acetinado da flor acariciava-lhe as canelas finas e o agitado jardim suspenso elevava-se em voos lânguidos deixando uma ou outra borboleta como adormecida nas pétalas ali abertas.
A borboleta, pequenina fada, vestida com as mais belas cores o mais delicado tecido, enreda-se em voo espiralado sobre a estonteada Benedita, e gentilmente inclina-a junto aos canteiros. Sem pressa Benedita segue o voo leve da pequenina fada, polegar e indicador em pinça, e segurando a respiração, agarra em cuidada tenaz as asas lilases pinceladas de amarelo forte onde salpicam uns circulos escuros e em suave roçar deixa que aquele pó de colorido intenso lhe cubra as pontas dos dedos e se solte na palma da mão. E as asas ficam frágeis, translúcidas e ao soltar-se, a fada, pequenina borboleta, parece desequilibrar-se no ar, perdida a dourada poeira que lhe aveludava as asas.
Benedita fascinada envolve-se naquele bocadinho de fantasia, passando os dedos pelo rosto, pelo peito, pelos braços, pelas pernas, mantendo uma lenta carícia do polegar sobre os outros dedos como se quisesse passar a borboleta...E voou assim um bocadinho do tamanho do sempre...
O fio sedoso daquela teia grudenta, cuspiu-a num repente. Ali do lado de fora olhava curiosa as rosas trepadeiras, os belos amores perfeitos a que roubou uma acetinada pétala e a borboleta a que faltava cor e que não fugia da sua tentativa de a segurar. Desistiu, procurava aquele pó mágico que esta não tinha e desatou em correria por entre os geométricos canteiros, espantando borboletas e até uma libelinha, descobrindo uma ou outra escondida joaninha, querendo agarrar em pleno voo a que lhe havia de emprestar cor.
Escorregou numa das rosas caídas e permaneceu em equílibrio de braços abertos, pousada na ponta da sua mão a borboleta despida..
Aii, aiii o vinagre, tinha que o ir buscar à mercearia. E por ali seguiu com o voar das borboletas, até ao centro da vila.