sábado, 29 de outubro de 2011

o tempo da lama

Era no tempo de Outono tardio, o tempo em que a chuva solta o sol que a terra acolheu. Um breve tempo entre a terra humedecida e solta e a terra de pasta gelada da geada do Inverno.

descalça, a lama de terra escura alcança-me o tornozelo, envolve-me o pé como um veludo húmido e pesado e deixa-me dar passos, lentos, desenhando no passo elevado o movimento, com terra. E o passo escorrega, como num pântano, para nova imersão de ímpeto húmido e viscoso rapidamente transformado em cálida e doce textura como se a terra me pudesse aquecer.
Assim me provoca a terra no tempo da chuva intensa, feita lama, feita cama, a entrada fria em corpo quente.
Sinto-a, doce e pulsante, bêbeda de tanta água, lavando-se da secura do tempo quente chamando-me para esse passeio, no campo atrás da minha casa, quando a chuva pára e a humidade permanece.
Gosto dessa lama, dessa terra viscosa e lenta que me envolve em ternura, em breves momentos do andar descalça, entre a sopa e o puré que, de lama, preparava nos meus tachos de brincar.
Porque a terra estava ali mesmo ao sair da porta e era bom andar descalça.

Era no tempo de Outono tardio, o tempo em que a chuva solta o sol que a terra acolheu. Um breve tempo entre a terra humedecida e solta e a terra de pasta gelada da geada do Inverno.

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