segunda-feira, 2 de abril de 2012

São ramos, senhores, são ramos


gosto dos ramos do domingo de ramos. Da oliveira embonecada de alecrim, camélias e papoilas, no esvoaçar dos ramos na descida da calçada da capela. Escuto-me nos cânticos em notas agitadas de alegria no esganiçado tom das catequistas e no entoar do refrão dos crentes e dos meninos e meninas que abrem a procissão.
O Sol abre-se às vestes mais leves, e solta os aromas dos ramos, cada qual mais belo, mais cheiroso, mais colorido. Não se assiste, está-se.
Os cheiros dos ramos inebriam o cortejo, e no fundo da calçada entra-se em Jerusalém, no mistério da salvação. Os ramos agitam-se e refrescam personagens invisíveis e os cheiros navegam em barcas solares: alecrins, camélias e papoilas em mares de flores.
-Hossaaaaaana! Hossaaaana! Cantam os crentes. Os meus sapatos de verniz branco pisam a terra seca do largo da aldeia, que não é Jerusalém.
O meu ramo continua a dar-me sombra, as camélias a ficarem ligeiramente desidratadas, urge chegar ao fresco da igreja. E os crentes apressam o passo e os cânticos ficam mais rápidos.
O incenso cerca os cheiros do campo que invadem o templo, é tempo de benção e aspersão. Os ramos poisam no chão, inclinam-se dóceis e revigoram-se na frescura da água benta, reparando as rugas das flores que os adornam.
No adro trocam-se as bençãos, os galhos com pontas floridas ofertam-se pelos folares.
Eu não tenho padrinhos, visíveis, são personagens invisíveis, como as de Jerusalém, de que sei o nome, mas não conheço as caras. Tenho por isso o poder de trocar bençãos com quem me emociona. É o que faço com os meus pequenos ramos floridos.
Em casa está sempre um enorme caixote que é o folar do meu padrinho. Nas casas da aldeia estão sempre as emoções e ainda que as camélias estejam amarelecidas o alecrim tem vigoroso odor.
No Domingo da Páscoa, depois da paixão, hei-de recolher a minha benção.

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