sexta-feira, 8 de julho de 2011

a mosca e a aranha

zzzap!! Fechou a mão sobre a mosca, que andava já lenta naquele fim de tarde de um fim de Setembro quente, e sorriu aos garotos que à sua volta abriam sorrisos de vitória.
Apanhei-a - disse, abanando a mão com rapidez. - Agora é pô-la tonta que já lhe arrancamos as asas - e sorriu novamente.
Na ruela que desembocava no largo, na casa que fazia esquina as paredes juntavam pequenos blocos de granito, sem forma, criando múltiplas e minúsculas cavernas entrelaçadas pelas teias das suas habitantes, as aranhas, que nunca se viam. Tinha sido essa a teima, existiam mesmo, as aranhas, e eram assim tão gigantes como ele dizia?
- Só saem para comer, repetia o primo, estão lá. Por isso a mosca!
Os fins de tarde de Setembro, na aldeia, eram invadidos pelas moscas, que retiravam o prazer de se estar sentado nas soleiras, obrigando a um constante levantar das mãos e sacudir de pernas. E picavam, as moinantes. Nesse fim de tarde admiravam-se as teias que ao pôr do sol envolviam as paredes, esburacadas e cavernosas, da casa de um diáfano brilho aracnídeo.
Mal amadas, as aranhas, exerciam um estranho fascínio nos garotos, e as moscas precisavam de ser punidas.
- Já a não sinto a voar, há-de estar cansada - e foi abrindo a mão cuidando de uma precisa lentidão, de forma a que a mosca fosse apanhada antes de voltar a conseguir voar, que algumas tinham já escapado.
-Ahh! Cá está - e a mosca apenas caminhava na palma semifechada, pronta a fechar-se se as asas esvoaçassem. - Rosita, vai, tens que lhe arrancar uma asa - e sorriu, a fileira de dentes certos e brancos.
- Urrgh, que nojo,não sou capaz, disse Rosita com um esgar na cara.
- Então tu, Lelo, tem que ser já senão ela foge - disse o primo.
Uma, duas, arrancou as asas e a mosca já não voava, estrebuchava.
- Cá vai ela agora, disse o primo. Colocou-a na teia e toda a rede de brilhos sobre a parede baloiçou.
O tempo abrandou, os olhares pararam e cintilaram sobre aquela zona mais escura, entrada de um reino secreto, à espera da aranha.
E o sol do fim de tarde de Setembro aqueceu brandamente os ombros dos garotos e do primo, iluminando o debater da mosca à aproximação da escura e grande aranha.
- Primo, vamos fazer outra vez, para aquela mais acima, disse Lelo.
E a Rosita foi-se embora.

2 comentários:

  1. É bom ler estas vossas histórias ;)
    Devias editá-las num livro de acordo com o que diz a minha mamã! Beijinh* grande :)da prima DianaCrespo

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