sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

o regato

chegava-lhe o som do regato, cristalino, saltitante e tão  aveludado. Sentia-lhe a carícia profunda sobre o leito estreito, aqui e ali pejado de quebras de rochas duras e tão docemente talhadas. Puxou de uma erva mijona, enquanto rolava o corpo e, cotovelos sobre o solo, mordiscou-lhe a haste, doce.
Deixou que a aragem lhe soltasse os cabelos e acariciasse os seios, definindo os mamilos, trémulos, sob o leve tecido do vestido. Sugou um pouco mais daquela seiva, da erva, e ajeitou-se sobre a leve inclinação do terreno deixando-se rebolar até ao som do regato.
Deixou tombar as mãos na água, sentindo nos dedos a frescura e a força daquela torrente compacta e apertada. Navegadas as mãos, aspergiu-se das gotas de água, soltas sobre o rosto e sobre o peito. Aninhou-se, em feto, e abriu-se em nenúfar, um raio de Sol espreitou por entre as folhas do choupo e beijou-lhe a face.

Cerrou as pálpebras e adormeceu. O regato murmurou de amor.

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