domingo, 26 de fevereiro de 2012

Uma história de amor: do acto do casamento II: 7 de Dezembro de 1961, cara e legítima esposa

06/11/1961

" Cara (.......)

O meu sincero desejo é que estejas de boa saúde, assim como a tua mãe, e que a (.....) já esteja boazinha também, e livre dos seus padecimentos.

    Estive ontem, mais o Dr. (.... .....) no Reg. Civil, onde fizemos a declaração. O ajudante disse que ainda ontem mandaram para o correio os editais, para a Conservatória a que pertencem os (A.....). Calculo que dentro de 15 dias possa estar tudo pronto para depois se escolher um dia para o ponto final.
Em todo o caso creio que só to direi depois de ter acontecido.
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Estive quase para não escrever hoje por falta de assunto, mas pensei que irias ficar decepcionada, e por isso cá me resolvi ao sacrifício.
     Aí vai o cartão de identidade, para tratares de o renovar e enviar-mo depois por ser necessário.
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     E pronto.
    Dá muitos beijos à (.....), dizendo-lhe que é o papá a enviar-lhos. Ela não sabe o que isso é, mas é um pretexto para me tornar lembrado dela. Todos os dias miro e remiro as sua fotografias.

                                                                        Beija-te com amizade o
                                                                        quase teu
                                                                                               .........

Cara (......)

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..........Porém, ao passar em frente à rua do Correio esquecera-me a carta, e só me lembrei já mais à frente.
...............................Mas estava destinado que nesse dia não seguiria a carta, pois mais uma vez me esqueci. Só me lembrei já no dia seguinte. E aqui tens a explicação de não teres recebido carta no domingo...
          Hoje fui ao Correio enviar.te um vale de 300.00 (escudos). Se for insuficiente diz.
          Creio que é uma tolice estares aí. Com explicações dificilmente ganharás tanto como gastas. E não sabes se vais colocada para algum ponto que te permita continuá-las.
          Mando-te duas apostas. É só para brincar, sem esperanças de ganhar. Se o impresso não servir, e tiveres interesse em gastar 3.00 (escudos), preenche outro.
         Como vais na tal ordem de colocações? Há muitas à frente?
         Como surge a oportunidade, mais uma vez falo da (.....). Como vai ela agora? Boazinha? Fala do papá? Muitos beijos para ela...........................
          E pronto. A ver se hoje não há esquecimentos.
                                                    B.
                                                             .............................."



09/12/1961

" Cara (......)

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E agora a notícia que disfarcei até agora. Estou convencido que nunca mais esquecerás o dia 7 de Dezembro de 1961. Às 17 horas, aproximadamente, conseguiste o que há tanto ambicionavas. A grande triunfadora não foste tu. Foi a nossa (.......). Já muito lhe queres, mas mais lhe deves querer ainda (se tal é possível). Se não fora ela é bem possível que nunca chegássemos aonde agora estamos. No registo o teu nome ficou acrescido com o meu apelido. Enquanto esteiveres aí não o porei nos envelopes, para evitar comentários à razão porque o não tenho posto. Mas deves gostar de vê-lo em letra redonda (".......  ........ ... ...... ......"). Parabéns e felicidades. Eu ainda não me apercebi bem da nossa mudança. Tudo se passou quase como se eu não fosse visto nem achado no acto.
      E é assim, cara e legítima esposa.
      Agora, está. Bem? Mal? Tudo fiz por bem, como sabes. Se muito sofreste, eu também não tive uma vida de rosas. Foi um amor puro o que agora nos uniu: amor pela nossa querida filha.
      Quanto à tua vinda, gostaria. Mas depois custar-me-ia muito a separação. Não será melhor suportar um pouco, agora que estamos adaptados a este convívio à distância? Resolve.
       Muitos beijos à (.....) do Papá.

                                                                               Beija-te o teu
                                                                                              ................. "

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