quinta-feira, 22 de novembro de 2012

tinha um vestido de esperas

tinha um vestido de esperas, feito de remendos vários, sinais das estações em  que se perdia.
naquele dia a carruagem deixou-a em Cuzcar. Sentiu-se em casa. a estação estava recheada de recantos de memórias que lhe preenchiam os dedos.
Balbuína espreitou o Sol que se perdia por um beco azul e decidiu que ali era o tempo de se encontrar.
Havia um recanto estranhamente atraente, um eco de uma árvore casa que lhe cantava um breve solo de violoncelo.
encantava-a o cheiro e o som da madeira, um seco adocicado ternamente quente, ternamente áspero. seduzia-a a macieza, quase seda, da madeira que constantemente se acaricia. Então escolheu-o, àquele recanto, para si. Envolveu-se nos seus braços e, num abraço apertado, rodopiou no átrio da estação.
O beco azul ladeado de hortenses lilases convidou-a a seguir o Sol. Espreguiçou o andar pela colina, que lhe fechava o horizonte, num carreiro ondulante. No cimo, já quase na descida do lado de lá, encontrou-a, a árvore casa. Tocou-lhe o tronco, rugoso e firme e disse-lhe o nome - Balbuína - num sussurro. - De Cuzcar, respondeu-lhe a casarvore, agitando as ralas folhas, e abriu-lhe a porta.
tinha um vestido de esperas, feito de remendos vários, sinais das memórias que recolhia.
E por dentro como era macia!

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