sexta-feira, 20 de setembro de 2013

a gavinha inquieta


cocegou-lhe o pescoço quando tombou da esguia haste. era uma gavinha inquieta e Benedita recolheu-a para junto das flores lilases e cheirosas da ervilheira. Ali, naquela floresta encantada de sombras rendilhadas, o caminho do meio deixava-a entrar no mistério. mal entrava sumia-se o mundo, até o cocuruto da casa deixava de tocar o céu.
bem por cima da sua cabeça a arcada verde enredava-se numa tela quase sumida de azul e de um lado e outro do caminho do meio as canas seguravam gentilmente fiadas de plantas altas salpicadas de cheiro lilás. aqui e ali havia princípios de vagens doces e algumas gavinhas soltas do entrançado da cana.
o caminho do meio não tinha fim, nem tempo.
Benedita ousava-se por lá na perdição do suco doce das vagens, aquelas que mascava quando a mãe debulhava mil e uma ervilhas nas manhãs pardas de primavera. gostava desse encontro antecipado, antes da colheita, quando as flores chiavam cheiros e as vagens tenras  exibiam uma cor amarela desmaiada e suculenta.
percorreu o caminho do meio, sem fim. a borboleta esvoaçou quando a gavinha inquieta tombou. Benedita seguiu-lhe o voo de flor a flor, por entre os caminhos estreitos das fiadas de ervilheiras carregadas de vagens doces e as hastes abriram-se em Tempo. Encontrou Sindala com Zi pousada no ombro. Deu-lhe a mão e seguiram adentro de Tempo, a gavinha enredada no tornozelo de Benedita.

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