quarta-feira, 25 de junho de 2014

Samil, a felina

as saudades faziam-lhe comichão, naquele sítio em que a respiração se misturava com o suspirar.
Suspirou e olhou para as mãos. Sentia-lhe ainda o toque, a respiração quente sobre o seu ventre. Aninhou-se sobre as almofadas do cadeirão grande. O sol estava no fio do horizonte e rasgava os céus de laranja e rosa forte. Samil lambeu-lhe os dedos, saltou para junto dos seus  cabelos e esfregou-lhe o focinho cor-de-rosa no nariz.
"-Samil",-disse-lhe Balbuína lamuriosa,- " ele vai esquecer-me.."
A felina ronronou, espreguiçou o corpo e olhando-a bem de dentro da fenda preta dos seus olhos cantarolou uma poesia enrolada:

"- foi ele cativo do teu amor,
o amargor da partida no olhar
leva o teu sabor na alma
e dos Deuses a missão dada
que é de Tempo resgatar
acredita senhora minha
que naquele mar imenso

no teu suspiro vai regressar"

Balbuína sorriu.
" Samil, disse, és a gata mais doce e sedutora destas terras. Aqueceste-me o coração. Mas temo que sejam tantas as provações que mesmo que me não esqueça, possa não conseguir voltar!"
"- Navega ele no mar da saudade, minha senhora das mantas. É feito dos teus suspiros, para que ele saiba voltar. Assim ele te sussurrou no leito, por isso sempre deves suspirar".
Balbuína olhou o fio do horizonte. O Sol latejava as cores do fim do dia. Suspirou, as saudades faziam-lhe comichão naquele sítio. Sentiu-lhe a respiração quente sobre o ventre. Voltaria, sim.
Samil enroscou-se no seu pescoço e adormeceu.

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