segunda-feira, 20 de junho de 2011

com asas nos pés

a água fria sacudiu-lhe as memórias. Nos pés nasceram-lhe as asas perdidas, pequenos leques propulsores da viagem interrompida. E a água avançou um pouco mais empurrada pela lenta subida da maré, marejando-lhe as pernas e as coxas em suaves encostos, beijos de frescura fugidia, que foram abrindo a prata luzidia.
o sol brincava-lhe no olhar aquecendo a suave curva dorsal que ela foi imergindo sob as ondas até que o mar a envolveu e lhe sussurrou: além é o mundo...além é o mundo....
Alicia abriu os olhos e uma lágrima escorregou-lhe na face. O corpo pulsou agitado pelo bater das pequenas asas. Com um impulso elevou-se, o brilho da prata refulgindo nas suas longas e inquietas pernas, libertando miríades de gotículas de água e voou na direcção da brisa. As memórias sacudidas mordiam-lhe os sentidos e as certezas. Nem sabia porque voava, mais estranho ainda, como voava.
Tinha que encontrar Libério. Libério sabia mas ela não sabia como encontrar Libério.

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