segunda-feira, 6 de junho de 2011

Sindala e o anel de Benedita

tinha um anel de ouro, com uma pequena pedra verde, que não era uma safira, mas lhe dava a magia de poder presumir-se algo encantado e, daí apenas poder ser usado por ela, Sindala, intrépida amazona, escondida no pequeno corpo de Benedita Alva, criança inquieta e sonhadora, desejosa de vir um dia a ser peixeira, pelo prazer de pegar nas notas com as mãos carregadas de pedras de sal.
Sindala acautelava-se na ousadia de se mostrar pela confusa vocação para o peixe, de Benedita, e a completa ausência de gosto pelos cavalos. Partilhavam o fascinio pelas aventuras de rua, por acções ousadas e um pouco loucas, como caminhar no beiral dos telhados, e por idas ao cinema para ver filmes de adultos.
Sindala pretendia cativar Benedita, resgatar aquela meninice, e permanecer por mais anos ainda amazona sem idade, lá no seu mundo de cavalos e duas luas. Aí surgira o anel, de safira enganadora, rodeado de dois zicórnios, brilhantes, que Benedita recebera e que a fazia sonhar-se princesa. Princesa e Maga!
A casa de Benedita era ridiculamente grande. Bem no meio do salão de entrada, sentia-se pequenina como a formiga, olhando a escadaria que em seis lanços subia por dois pisos, tornando estranhamente comprida a medida do chão ao alto do tecto. Lá bem em cima no topo da escada, quase como se fosse outro mundo, com gente diferente, Sindala ia cohabitando com Benedita e, com ela, descendo cada vez mais a escada, ia brincando de faz de conta. Bordejando a casa, o quintal em bico, tinha uma luxuriante vegetação de couves, ervilhas e favas. Tinha ainda uns cantos da batatas, alhos e cebolas, tudo muito bem arrumado, com pequenos regos de passagem assemelhando-se a um jardim sem flores. Bem na ponta do bico, estava a árvore, grande e rugosa, já idosa, com raízes que tinham retirado algumas das pedras do muro envolvente. Por ali se passeavam imensas sardaniscas ciosas da hora do sol. Já Benedita sentava-se nalguma das pedras soltas, de saia escocesa, vermelha riscada, a ondear à breve aragem do pôr do sol e sob aquele luzir laranja dourado volteava no dedo o seu anel de safira enganada que chispava breves brilhos dos transparentes zicórnios, esperando que numa das voltas fosse princesa. Mas Sindala não arriscava, aquela história do peixe deixava-a pouco convencida e por outro lado cada vez mais gostava de brincar de Benedita, e de poder entreter-se com o mastigar doce da casca das ervilhas. Sindala já não queria ser eterna amazona, mas Benedita queria ainda ser princesa.
Naquele dia..

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