chegava de mansinho e aquecia a terra, um calor morno que lhe acariciava a nuca e se embrenhava sob a roupa envolvendo-a num raio de Sol curiosamente palpitante. Gostava de se agitar entre o tecido e a pele, o raio de sol a brincar sobre o seu corpo. E soltava-se de trapos, no esvoaçar da saia em rodopio infinito, braços em hélice e riso solto até cair tonta na erva do jardim.
A terra cheirava a Sol e estava quente, protegida num manto de humidade que o calor resgatava. E as mãos procuraram pentear as ervas, pernas flectidas pelos joelhos em alegre dá que dá. O vestido era de popeline com flores azuis e rosa e a erva era verde.
A joaninha trepou-lhe pelos dedos e passeou-se vestida de vermelho preto, desenhando um carreiro amarelado sobre a pele. Elevou a mão e cantou-lhe a lengalenga da viagem para Lisboa. Soprou-lhe de mansinho como o raio de Sol e ela abriu as asas e voou.
Benedita recolheu as pernas, agarrou-as com os braços e encostou a face nos joelhos. O Sol escorregou-lhe de novo pela nuca e pelo corpo. Suspirou.
Ah!-pensou- é Primavera.
Olhou para os pés e já não calçava galochas.
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