quinta-feira, 15 de março de 2012

...e ela, feno pelo ar.



os pés tocaram, na descida, o rugoso quente dos degraus, até ao patamar térreo. A terra seca do caminho soprava-lhe a poeira do fim de uma quente tarde de fim de Primavera. Agitou-se no desvario de a palmilhar, entre o sedoso da poeira fina e as finas picadas da areia grossa que lhe cocegavam a palma dos pés. E o trilho era marcado em sinuosas pegadas, fugidias de pedras e calhaus, por vezes marcadas em rasgos mais profundos, quando se perdia no rocegar dos dedos na terra cálida.
Do lado do campo ainda era tempo de ceifa. Galgou a pequena inclinação do terreno e adentrou-se pelas ervas até perto dos ceifeiros, pés na terra torrosa e negra, de porosa humidade.

- Olá menina, boa tarde! disseram-lhe os ceifeiros. Vamos à ceifa?
Brilhou-lhe o olhar, agitaram-se os dedos dos pés e acenou a cabeça.
- Sim, vamos!
Saia apartada em nó no cimo das coxas, para não atrapalhar a tarefa, foice bem segura, mão na mão de um ceifeiro, foi cortando a sua leira, ajeitando pequenos molhos logo juntos e atados para depois serem levados.
Saltitavam as poeiras da terra e das ervas, soltas pelos pés, que se iam prendendo nos cabelos e nas roupas, pintando-a de um cinza esverdeado e a soltar cheiro a feno pelo ar.

E os pés descalços,
 e a escada quente e rugosa,
e a terra poeira e areia
 e ela, feno pelo ar.

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