quinta-feira, 7 de março de 2013

a peregrinação: é bom ser longe

era longe, mas era bom ser longe. Ser perto perdia o encanto da paciência, perdia a essência da peregrinação.
Em Cuzcar todos os lugares eram longe. Cada partida era antecedida de mil preparos. No mínimo havia uma merenda e sempre um agasalho para a manhã mais fresca ou aconchegos de fim de tarde. no caminho cruzavam-se sempre viajantes e, na estrada até Balbuína, trocavam-se histórias, por vezes em silêncios, na procura da manta das memórias.
Basil descobriu-se na viagem. Ainda não sabia para onde ia, mas começou a seguir os trilhos de outros caminhantes. Reparou que não tinha alforge quando a fome lhe segredou que os viajantes iam merendando.
Sentou-se na berma, sobre um tronco onde tamborilou os dedos. Havia um malmequer a desabrochar na ponta e Basil sentiu-se acompanhado. Contou-lhe a história do caminho que tinha feito e percebeu que era tempo de ter companheiros. Foi quando eles passaram, um grupo de viajantes. trocavam palavras e risos e ali junto ao tronco abrandaram o passo e olharam-no: - Olá companheiro, disse-lhe um sorriso aberto de um rosto de mulher, podemos juntar-nos no seu espaço e repousar o corpo? - Claro, respondeu Basil. Chegou-se ao malmequer e a fome voltou a apertar-lhe o estômago ao ver os nacos da pão e queijo que os viajantes merendavam e receoso perguntou: poderão dar-me um pouco de pão e queijo? A mulher de sorriso no rosto logo lhe deu e perguntou: Não se preparou para a viagem, caro companheiro? - Pensei que era perto, quando entrei em Cuzcar, disse Basil enquanto dentava sôfrego o pão com queijo, mas já percebi que é longe. Já fiz um longo caminho, senhora de sorriso no rosto!
-Sindala, disse-lhe a senhora de sorriso no rosto, sou Sindala. Fez uma breve pausa olhou Basil segurou-lhe na mão e disse-lhe: queres acompanhar-nos na viagem?
Basil sorriu e partiu, com eles. Sabia-lhe bem ser longe, estava em peregrinação.

Sem comentários:

Enviar um comentário