domingo, 3 de março de 2013

dançaram de paixão

o horizonte corria à sua frente. a noite era escura e a rua alaranjava com o reflexo dos candeeiros no piso molhado. Aconchegou-se, na breve separação do frio e da humidade, no casaco astrakan comprido, herdado da sua mãe.
os saltos batiam no empedrado e corriam a par do horizonte. era uma cidade escura numa noite escura. a chuva parara mas as nuvens teimavam em esconder a lua, e a cidade era escura.
o horizonte tinha-se mexido de novo e deixara uma nesga no céu escuro. escapou-se por ali um riacho de luar.
os passos soaram mais rápidos e o horizonte corria. a rua chegou a uma praça e aí desaguava o riacho de luar. o piso era de prata, luzidio.
do outro lado, do horizonte, soaram outros passos e ele surgiu, casaco escuro solto sobre as ancas, chapéu de aba descida sobre o olhar.
escorregou-lhe o astrakan. o vestido de cetim vermelho humedeceu-lhe a pele. deu passos com o horizonte no riacho de prata enluarado. levantou o braço rodeou-lhe o pescoço e encostou-se-lhe bem no peito. Caminharam  em andamento tenso ao contrário do horizonte.
Dançaram de paixão.
Ainda hoje lá estão, no riacho de prata do luar, na noite da paixão

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